DAVI CONFESSA SEUS PECADOS DIANTE DE DEUS.
Davi confessa seus pecados diante de Deus e
diante dos homens.
“...mas o que confessa e deixa, alcançará
misericórdia”. Provérbios 28.13b.
O verdadeiro arrependimento vem acompanhado
de choro e humilhação espontânea da pessoa diante de Deus. (2 Samuel 12:1-13). Os
Salmos 32 e 51 são Salmos de arrependimento e pedido de perdão a Deus feitos
por Davi.
Em Mateus 3:5-9, João Batista fala sobre o verdadeiro
arrependimento porque via muitas pessoas cujo “arrependimento” estava longe de
ser sincero. Atualmente, essa questão também é muito pertinente. É bem verdade
que alguns se excedem e estabelecem suas próprias regras e exigências
legalistas como único “fruto digno de arrependimento”. Por outro lado, alguns
ensinam que o arrependimento é simplesmente uma questão de “concordar ou não
com Deus”. Essa definição, no entanto, resulta em uma mera assunção de culpa,
de forma a minimizar o peso e o horror do pecado, levando a pessoa a repeti-lo.
Além disso, vemos as confissões chorosas de alguns pregadores e de outros
líderes proeminentes ditos cristãos e nos perguntamos se eles estão
verdadeiramente arrependidos dos graves erros e pecados cometidos. Creio que o
sentimento de Davi é genuíno e nos dá um exemplo do verdadeiro arrependimento.
Nosso foco não é tão restrito quanto parece.
Gostaria de considerar 2 Samuel 12:13 à luz da vida de Davi após essa
confissão, bem como à luz da sua confissão ampliada em dois dos Salmos que
tratam especificamente do seu pecado relacionado a Urias e Bate-Seba: Salmos 32
e 51. Prestemos muita atenção, para vermos, então, como é o genuíno
arrependimento.
Tanto o pecado e a transgressão a Deus como o
arrependimento e a confissão de pecados podem demorar muito tempo ou não mais
que uma fração de segundo. Com Saul aconteceu deste modo. Assim que a pressão
diminuiu e o perigo pareceu ter passado, ele volta a pecar, se não da mesma
forma, mas também de alguma outra forma e, às vezes, até pior. Em 1 Samuel
26:21, ele confessa a Davi ter pecado ao tentar tirar a vida dele, mas se Saul
não tivesse sido morto em batalha, temos poucas dúvidas do que ele poderia ter
feito a Davi se tivesse oportunidade. Lembre-se de que Davi não “voltou” com
Saul, quando este lhe pediu. Davi o conhecia muito bem e não quis voltar com
ele. Um dos fatores da insegurança de Saul é que ele se arrependia e depois fazia
errado de novo por conveniência. O arrependimento de Saul era passageiro.
Vamos fazer um resumo da sequência dos
eventos que resultaram no pseudo-arrependimento de Saul em 1 Samuel:
Saul tenta justificar sua desobediência
diante de Deus como se suas ações fossem ditadas pelas circunstâncias, uma
espécie de “lei marcial” moral criada por ele mesmo. 1 Samuel 13:11-12;
Saul permanece em silêncio quando fica
evidente que Deus não aceitará suas desculpas. 1 Samuel 13:15;
Saul procura redefinir sua desobediência,
como se ela fosse justificável. 1 Samuel 15:13;
Saul procura lançar sobre o povo a culpa pelo
seu pecado, tentando ainda justificar o “pecado” deles como desejo de prestar
culto a Deus. 1 Samuel 15:15;
Saul diz que estava tentando obedecer a Deus,
mas foi incapaz de controlar o povo, o qual pecou ao poupar alguns animais,
embora ele omita qualquer outra menção à sua responsabilidade de matar o rei
Agague. 1 Samuel 15:20-21;
Saul relutantemente admite ter pecado, mas
insiste em dividir a culpa com os outros. 1 Samuel 15:24;
Saul tenta rapidamente se “arrepender” e ser
perdoado, para poder “prestar culto” a Deus. 1 Samuel 15:25;
Saul busca desesperadamente minimizar as
consequências do seu pecado, a fim de que não tenha de sofrer muito por causa
dele. 1 Samuel 15:25-31.
A trajetória de desobediência de Saul e a
trajetória de obediência Davi diante de Deus.
Antes de nos voltarmos para o
arrependimento verdadeiro de Davi, deixe-me fazer uma pausa
momentânea para fazer algumas comparações entre Davi e Saul.
De diversas maneiras podemos retratar Saul e
até de uma forma bem sombria, mas talvez distorcida. Apesar de todas as suas
falhas e pecados, o autor de 1 e 2 Samuel faz um relatório geral bastante
decente sobre a sua administração que nos primeiros anos de sua administração,
de seu reinado, foi fiel a Deus e conquistou grandes vitórias nas batalhas
porque Deus era com ele.
Um texto bíblico de referência do assunto diz:
“Tendo Saul assumido o reinado de Israel,
pelejou contra todos os seus inimigos em redor: contra Moabe, os filhos de Amom
e Edom; contra os reis de Zobá e os filisteus; e, para onde quer que se
voltava, era vitorioso. Houve-se varonilmente, e feriu os amalequitas, e
libertou a Israel das mãos dos que o saqueavam”. (1 Samuel 14:47-48).
As comparações anteriores entre Saul e Davi, como,
por exemplo, a reação de ambos ao que Davi fez ao gigante Golias, matando o
maior inimigo de Israel, fizeram Saul parecer com um comportamento muito mau
contra Davi e Davi com um comportamento muito bom em relação a Saul. À luz dos
pecados de Davi descritos em 2 Samuel 11 e 12, Saul já não parece tão mau
assim. Em lugar algum nós o vemos tomando a esposa de outro homem e matando seu
marido. Embora ele tenha tentado tirar a vida de Davi, isso foi às claras, não
às ocultas como Davi fez com Urias, por intermédio de Joabe. Os pecados de Davi
fazem Saul parecer um pouco melhor do que antes. Há, no entanto, uma coisa que
distingue radicalmente os dois: Davi realmente se arrependeu de seus pecados e
Saul não. Davi era um homem segundo o coração de Deus. Isso não o isentava das
falhas humanas, nem o afastava do pecado, mas resultava em arrependimento
genuíno diante de Deus. À medida que estudamos esse
arrependimento genuíno, tentaremos identificar o que isso significa.
Deus também não consegue sentir grande prazer
nos atos negativos de Davi e mostra para Davi o quanto ele errou e que as
consequências do seu pecado viriam lhe causar grandes tristezas e dores.
O prazer mas que o prazer é minimizado pelas alegrias
de obedecer a Deus e desfrutar da Sua comunhão. A agonia descrita por Davi
finalmente o leva a quebrar seu silêncio e confessar seus pecados. Seu
arrependimento é o resultado de um processo doloroso, na maior parte ocorrido
dentro dele mesmo.
Na maioria das vezes é assim, lembram-se do “arrependimento”
dos irmãos de José?
A história foi escrita no livro de Gênesis, a
qual foi provocado por ele quando já era
governador do Egito mas a intervenção de
Deus fez com que aqueles acontecimentos descritos em Gênesis 42 a 45, fossem
mudados e deram um final de vitórias para José. Seus irmãos haviam claramente
pecado gravemente contra ele ao vendê-lo como escravo para o Egito, talvez se
sentissem aliviados pensando que, pelo menos, não o tinham matado, como
planejaram a princípio. Ao ascender à segunda posição mais alta do Egito, José
tinha poder para lidar com os irmãos como quisesse, poderia matá-los sem dó e
sem piedade, mas não o fez. Quando eles foram para lá para comprar grãos, ele
podia muito bem ter se vingado, mas, em vez disso, preferiu conduzi-los ao
arrependimento. Para tanto, ele disfarçou sua identidade,
se quisesse acertar as contas, ele lhes teria dito quem era. José orquestrou
tudo de forma que os irmãos tivessem de tomar uma decisão quase idêntica àquela
tomada anos antes. Ele colocou seus irmãos numa situação em que poderiam
entregar Benjamin, abandonando-o como escravo no Egito, ou poderiam ficar
juntos e tentar salvá-lo. Judá, que recomendara a venda de José como escravo,
agora se oferecia como escravo para que Benjamim pudesse voltar para Jacó, seu
pai idoso. Esse é um arrependimento verdadeiro.
O arrependimento verdadeiro não só lamenta
ter feito o que é errado, os irmãos de José lamentaram o mal feito a ele anteriormente
Gn.42:21-22, mas não o repete se tiver chance para tal. José deu aos
irmãos uma oportunidade e, dessa vez, eles decidiram agir verdadeiramente e
corretamente. Um Arrependimento verdadeiro é sempre resultado de um longo e
doloroso processo.
O arrependimento de Davi confessando seus
pecados a Deus e pedindo perdão. O arrependimento de Davi é expresso por uma
confissão completa e pública de culpas diante de Deus e dos homens. A
brevidade e a simplicidade da confissão de Davi são impressionantes. As
confissões de Saul não eram simples, nem diretas. Hoje, ele teria um advogado e
um assessor de imprensa para rascunhar suas palavras. Davi assume totalmente a
responsabilidade por seus pecados; Saul procurava jogar a culpa nos outros ou,
pelo menos, dividi-la com eles. Davi confessa o pecado como pecado, sem
desculpas, sem acusar ninguém. Ele sabe que o pecado é contra Deus.
Davi leva seu pecado muito a sério. Saul
sempre procurou minimizar seu pecado, fazendo-o parecer menos mau do que realmente
era. Davi faz o oposto. Os Salmos 32 e 51 indicam que ele pensou muito sobre
suas ações e, quanto mais pensava, mais abominável o pecado lhe parecia. Uma
vez que os salmos foram preservados para o culto e para a posteridade, o pecado
e a confissão de Davi se tornaram de conhecimento público. Em última análise, o
pecado de Davi é contra Deus, contra Deus somente. Isso não diminui o mal
causado a Urias e Bate-Seba. Pecado é quebrar as leis de Deus e, nesse
sentido, todo pecado é contra Deus, pois quebra Suas leis. Os crimes são
ofensas cometidas contras as pessoas, mas o pecado, nesse sentido específico é
apenas contra Deus, naquilo em que quebra Suas leis.
Davi quebrou pelo menos três mandamentos. Ele
cobiçou a mulher do próximo, cometeu adultério e cometeu assassinato. (Êxodo
20:13, 14 e 17).
Davi não esperava que suas boas obras cobrissem
ou diminuíssem suas culpas e seus pecados diante de Deus. Chegamos agora a
um dos maiores erros de todos os tempos: a falsa presunção de que Deus pode ser
dobrado, convencido por alguém ou por muitas palavras bonitas de qualquer
pessoa, ledo engano. Geralmente se pensa ou, mais precisamente, se presume
que os homens só precisam superar a quantidade de seus pecados com boas obras.
Se fazem mais coisas “boas” do que “más”, acreditam que, no cômputo geral, são
mais bons do que maus e, assim, mais qualificados para serem aceitos e mais
perdoados por Deus. Tais pessoas não compreendem que o tipo de justiça
requerida por Deus é a da obediência perfeita à Sua Palavra. Uma única falha é
suficiente para nos tornar culpados e, por isso, dignos de morte: “Pois
qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de
todos”. (Tiago 2:10, Mateus 5:19 e Gálatas 5:3).
Davi foi um homem segundo o coração de Deus.
Ele amava a lei de Deus. A mão do Senhor estava sobre ele em tudo o que fazia.
No geral, sua vida foi um exemplo a ser seguido, estabelecendo um padrão pelo
qual devemos nos esforçar. Seu pecado em relação a Urias e Bate-Seba foi uma
clara exceção, não a regra: “Porquanto Davi fez o que era reto perante o SENHOR
e não se desviou de tudo quanto lhe ordenara, em todos os dias da sua vida,
senão no caso de Urias, o heteu”. (1 Reis 15:5).
Se alguma vez houvesse um homem que poderia
ter dito que suas boas ações superaram seus pecados, esse homem seria Davi.
Mas, em vez disso, nós o encontramos confessando seu pecado, evitando qualquer
referência a algo de bom que tenha feito e reconhecendo merecer a ira de Deus.
“Pois eu conheço as minhas transgressões, e o
meu pecado está sempre diante de mim. Pequei contra ti, contra ti somente, e
fiz o que é mau perante os teus olhos, de maneira que serás tido por justo
no teu falar e puro no teu julgar”. Salmo 51:3-4.
Davi não abusa da graça de Deus, esperando
ser perdoado e ter a vida poupada. Existem pessoas que planejam e
tencionam pecar, crendo que Deus é obrigado a perdoá-las, seja como for, e
ainda se utilizam da frase que mais define quem é Deus, dizendo: Deus é amor.
Elas pensam que se fizerem algum ritual, recitarem alguma fórmula, serão
automaticamente perdoadas e a vida poderá continuar como era. Quem abusa da
graça de Deus em perdoar, por um lado confessa seu pecado, enquanto por outro
planeja repeti-lo. Davi confessa seu pecado contra Deus e não pede nada. Ele
sabe o que merece, e não pede para ser salvo.
Nesse sentido, ele é como o filho pródigo do
Novo Testamento que diz: “Então, caindo em si, disse: Quantos trabalhadores de
meu pai têm pão com fartura, e eu aqui morro de fome! Levantar-me-ei, e irei
ter com o meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não
sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus trabalhadores. E,
levantando-se, foi para seu pai. Vinha ele ainda longe, quando seu pai o
avistou, e, compadecido dele, correndo, o abraçou, e beijou. E o filho lhe
disse: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado
teu filho. O pai, porém, disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa,
vesti-o, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés; trazei também e matai o
novilho cevado. Comamos e regozijemo-nos, porque este meu filho estava morto e
reviveu, estava perdido e foi achado. E começaram a regozijar-se”. Lucas
15:17-24.
Esse filho tinha rejeitado tudo o que seu pai
esperava um dia lhe dar como herança e sabia disso. Ele tinha abandonado a
família e gasto toda a sua herança. Ele não tinha mais o direito a qualquer
reivindicação como filho. No entanto, ele conhecia seu pai e sabia que ser seu
escravo era melhor do que ser escravo de um empregador ímpio numa terra
distante. Por isso, ele volta para casa, confessa o seu pecado, pede perdão e
não espera nada além de se tornar um empregado. A reação do pai é de pura
graça, pois dá ao jovem o que ele não merecia. Davi como um filho pródigo, sabe
que não merece o perdão de Deus ou Suas bênçãos; por isso, ele nem mesmo pede.
Apenas confessa os seus pecados diante de Deus.
O arrependimento de Davi resulta em uma
alegria renovada na presença e no serviço do Senhor e em um compromisso de
ensinar aos outros a abandonar o pecado. Sabemos, pelo Salmo 51, que Davi
orou para que sua alegria no Senhor fosse restituída, 51:8,12. Temos todas as
razões para crer que seu pedido foi atendido. Além disso, ele também queria
ensinar aos outros: “Então, ensinarei aos transgressores os teus caminhos, e os
pecadores se converterão a ti”.Salmo 51:13.
Davi agora ensinará pecadores como um pecador
arrependido. Seu ensino procurará fazer com que eles abandonem seus pecados.
Como essa atitude é diferente da atitude dos ímpios, que procuram seduzir os
outros a seguir seu exemplo.
O apóstolo Paulo nos traz ensinamento sobre
este assunto dizendo: “Ora, conhecendo eles a sentença de Deus, de que são
passíveis de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas
também aprovam os que assim procedem”. Romanos 1:32.
Lembremos do apóstolo Pedro, cuja negação foi
predita pelo Senhor Jesus se referindo ao comportamento dele que iria nega-lo
três vezes antes que o galo cantasse. Mas Jesus lhe deu também palavras de
esperança.
“Simão, Simão, eis que Satanás
vos reclamou para vos peneirar como trigo! Eu, porém, roguei por ti,
para que a tua fé não desfaleça; tu, pois, quando te converteres,
fortalece os teus irmãos”. Lucas 22:31-32.
Pedro era arrogante, impaciente e impulsivo
antes da crucificação e antes de negar o Senhor Jesus. Depois de ter falhado
miseravelmente e de ter recebido a graça de Deus, ele foi restaurado. Foi aí que
seu ministério realmente começou. De certa forma, Deus usa o nosso pecado para
instruir outras pessoas. Talvez seja quando elas observam os resultados
dolorosos do nosso pecado, Provérbios 19:25 ou quando veem a restauração e o
profundo senso da graça de Deus produzidos na vida do pecador arrependido e
restaurado.
O arrependimento de Davi, divinamente operado
por Deus, produziu frutos dignos de arrependimento. Deus respondeu ao
arrependimento de Davi com graça, e assim Davi reage com graça para com aqueles
que lhe fazem mal e se arrependem.
Quando Absalão se rebela contra ele e está
prestes a tomar seu reino, Davi foge de Jerusalém junto com seus seguidores.
Enquanto ele deixa a cidade, um homem chamado Simei sai para amaldiçoá-lo e
atirar-lhe pedras, 2 Samuel 16:5-8. Abisai quer cortar a cabeça de Simei, mas
Davi não permite. Quando Davi volta a Jerusalém, uma das pessoas que sai ao seu
encontro para saudá-lo é Simei, o qual confessa ter pecado ao amaldiçoá-lo e
apedrejá-lo. 2 Samuel 19:16-20.
Abisai novamente quer executar Simei e, desta
vez, ele tem um motivo bíblico. Ele chama a atenção para o fato de Simei ter
amaldiçoado Davi, rei de Israel. A lei de Moisés proibia que se amaldiçoasse os
líderes do povo. Êxodo 22:28. Tecnicamente, ou melhor dizendo, legalmente,
Simei deveria ser morto, mas Davi o perdoa e poupa sua vida novamente. Ao fazer
isso, Davi o trata da mesma forma graciosa como Deus o tratou. Este incidente
nos faz recordar da história contada por nosso Senhor Jesus sobre o servo
incompassivo, Mateus 18:23-35, cuja enorme dívida é perdoada pelo rei, mas que
se recusa a perdoar uma dividazinha do seu conservo. Quem realmente experimenta
a graça de Deus, manifesta essa graça aos outros. A graça recebida por Davi em
consequência do seu arrependimento é demonstrada ao “arrependido” Simei.
O arrependimento de Davi produziu frutos
duradouros: ele abandona o pecado e não volta a repeti-lo. Há
pessoas, como Faraó e Saul, que parecem se arrepender, mas cujo arrependimento
é muito breve. Saul, com certeza, não demorou muito para retomar seus esforços
para matar Davi; e Faraó, para resistir novamente à partida do povo de Israel.
Isso aconteceu porque o arrependimento deles não foi verdadeiro. Na verdade,
seu arrependimento foi só um caminho mais curto, um jeito de acabar com a dor
do momento. Há uma grande diferença entre o falso e o verdadeiro arrependimento.
Davi se manifesta com um “arrependimento
maduro”. Ele vê seu pecado como realmente é e seu pesar é genuíno. Por isso,
ele não o comete de novo.
O perdão é concedido a Davi. 2 Samuel 12:13b. “Disse
o profeta Natã a Davi: Também o SENHOR te perdoou o teu pecado; não
morrerás.”
Davi recebe aquilo que não ousou pedir. Que
onda de alívio deve ter tomado conta dele ao ouvir as palavras de Deus através
do profeta Natã: “Também o SENHOR te perdoou o teu pecado; não morrerás.”
Quando reagiu à história contada por Natã sobre o roubo e a morte da
cordeirinha, Davi condenou a si mesmo: “Então, o furor de Davi se acendeu
sobremaneira contra aquele homem, e disse a Natã: Tão certo como vive o SENHOR,
o homem que fez isso deve ser morto”. 2 Samuel 12:5.
Legalmente, é claro, a lei de Moisés requeria
do culpado na história de Natã apenas uma restituição quádrupla, (Êxodo 22:1).
Davi, porém, deveria ser morto, tanto pelo adultério quanto pela morte de
Urias.
Sob a lei de Moisés, Davi não tinha qualquer
esperança. Ele era um homem condenado. Um homem morto. Como, então, é possível
Natã lhe dizer que ele “não morrerá”? Repare que a promessa de que Davi não
morrerá vem após a afirmação: “Também o SENHOR te perdoou o teu pecado.” A
“salvação” de Davi da condenação divina, assim como a nossa, não vem pela
guarda da lei, mas pela graça. E a razão para seu pecado ser perdoado é porque
o Senhor o retirou, o perdoou completamente.
Esse “retirar” do pecado não é algum truque
de mágica, onde Deus simplesmente pega o pecado e o faz desaparecer. O pecado
foi “retirado” conforme a declaração do profeta. Creio que a declaração de Natã
só pode ter sido feita com base na obra segura de Jesus Cristo na cruz do
Calvário, realizada séculos mais tarde. Com base na obra de Cristo é que mais
tarde Davi foi perdoado, até então os pecados eram cobertos. Seus pecados foram
suportados por nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, assim, a justiça de Deus
foi satisfeita, foi completada.
A expressão “foi retirado”, no verso 13, pode
ser literalmente interpretada como “fez morrer o seu pecado”. Esse é um verbo
comum e, muitas vezes, é usado no sentido de passar por ou passar sobre, como
na época em que os israelitas atravessaram o Mar Vermelho. Aqui, no texto
original, o termo está no modo causativo, de forma que pode ser traduzido como
“fez passar sobre ou fez morrer”. Tanto a nova versão King James quanto sua
versão original traduzem o termo como “eliminado”. Creio que a palavra hebraica
encontrada em nosso texto é utilizada em sentido aproximado em mais dois outros
textos da Bíblia. Em todas as versões em português o texto é traduzido como “o
Senhor perdoou o teu pecado”.
“Então, se irou muito Abner por causa das
palavras de Isbosete e disse: Sou eu cabeça de cão para Judá? Ainda hoje faço
beneficência à casa de Saul, teu pai, a seus irmãos e a seus amigos e te não
entreguei nas mãos de Davi? Contudo, me queres, hoje, culpar por causa desta
mulher. Assim faça Deus segundo lhe parecer a Abner, se, como jurou o SENHOR a
Davi, não fizer eu, transferindo o reino da casa de Saul e
estabelecendo o trono de Davi sobre Israel e sobre Judá, desde Dã até Berseba”.
2 Samuel 3:8-10.
“Tirou o rei o seu anel, que tinha
tomado a Hamã, e o deu a Mordecai. E Ester pôs a Mordecai por
superintendente da casa de Hamã”. Ester 8:2.
Nos dois casos acima, o mesmo termo hebraico
encontrado em nosso texto é usado para descrever a “transferência” de alguma
coisa de uma pessoa para outra.
O reino de Israel foi transferido de Saul
para Davi, 2 Samuel 3:8-10.
O anel do rei, dando a um subordinado
autoridade para agir em seu nome, foi tomado de Hamã e dado a Mordecai. O anel
foi transferido de uma pessoa para outra. O pecado de Davi foi perdoado e ele
recebeu a garantia de que não morreria porque Deus havia transferido os seus
pecados. Essa transferência ocorreu séculos depois, quando o “filho” de Davi, o
Senhor Jesus Cristo, morreu na cruz do Calvário. Os pecados de Davi foram perdoados
por nosso Senhor, e Ele pagou a pena pelo que Davi tinha feito, assim como foram
perdoados e apagados todos os pecados de todos os que aceitaram Jesus Cristo
como Senhor e Salvador de suas vidas. Davi não iria morrer por causa do seu
pecado porque Jesus Cristo estava destinado a morrer, pagando a pena pelos
pecados dele e de todos os que creram e que viveram antes do nascimento de Jesus.
“Então, se irou muito Abner por causa das
palavras de Isbosete e disse: Sou eu cabeça de cão para Judá? Ainda hoje faço
beneficência à casa de Saul, teu pai, a seus irmãos e a seus amigos e te não
entreguei nas mãos de Davi? Contudo, me queres, hoje, culpar por causa desta
mulher. Assim faça Deus segundo lhe parecer a Abner, se, como jurou o SENHOR a
Davi, não fizer eu, transferindo o reino da casa de Saul e
estabelecendo o trono de Davi sobre Israel e sobre Judá, desde Dã até Berseba”.
2 Samuel 3:8-10.
“Tirou o rei o seu anel, que tinha
tomado a Hamã, e o deu a Mordecai. E Ester pôs a Mordecai por
superintendente da casa de Hamã”. Ester 8:2.
Vários princípios e áreas de aplicação de
nossas vidas sobre os valores do arrependimento.
O arrependimento é uma obra realizada por
Deus que emprega o Seu Espírito Santo, a Sua Palavra e o Seu povo, na medida em
que são utilizados em resposta ao pecado. Não temos o poder de mudar os
corações, só Deus tem. Nesse sentido, arrependimento é uma obra de Deus. No
entanto, Deus prefere utilizar certos meios para alcançar Seus objetivos, e
assim é com o arrependimento.
Deus usa gente do Seu povo, como fez com
Natã, para confrontar as pessoas com seus pecados. Ele usa a Sua Palavra e o
Seu Espírito Santo para convencer os
pecadores de seus pecados. Hoje, da mesma forma que no passado, é mais fácil
falar com os outros sobre o pecado de alguém do que falar com a própria pessoa.
A Bíblia nos dá instruções muito claras quanto a nossa obrigação para com um
irmão ou irmã que parece ter caído em pecado. Mateus 7:1-5;18:15-20, 1Coríntios
5:1-13, Gálatas 6:1-5; 1 Tessalonicenses 5:14; 2 Tessalonicenses 3:14-15; 2
Timóteo 2:23-26; Tito 3:9-11 e Tiago 5:19-20. Ninguém realmente quer ser um
“Natã” para um “Davi”, mas este é o meio normal que Deus designou para lidar
com o pecado, ou para encorajar o pecador a se arrepender. O ponto alto da
amizade de Natã com Davi é quando ele lhe mostra o seu pecado, preparando o
terreno para o seu arrependimento.
Jesus Cristo morreu por nós para remissão dos
nossos pecados. Ele disse: E recebereis o dom do Espírito Santo que há de vir
sobre voz”. Atos 2:38.
“E, ouvindo eles estas coisas, apaziguaram-se
e glorificaram a Deus, dizendo: Logo, também aos gentios foi por Deus concedido
o arrependimento para vida”. Atos 11:18.
“E, quando se encontraram com ele, disse-lhes:
Vós bem sabeis como foi que me conduzi entre vós em todo o tempo, desde o
primeiro dia em que entrei na Ásia, servindo ao Senhor com toda a humildade,
lágrimas e provações que, pelas ciladas dos judeus, me sobrevieram, jamais
deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa e de vo-la ensinar
publicamente e também de casa em casa, testificando tanto a judeus como a
gregos o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo. Atos
20:18-21.
Evidentemente abraçando inteiramente um modo
novo de encarar a vida, desta vez com os olhos de Deus, por meio das Sagradas
Escrituras. O pecado se torna repulsivo, de forma que decidimos não
repeti-lo. O resultado é um senso renovado da presença de Deus, uma nova
alegria na nossa salvação e um desejo de dissuadir outras pessoas de pecar.
Em minha opinião, uma das
características do genuíno avivamento é o arrependimento
verdadeiro. Relacionamentos que pareciam irreversivelmente quebrados de
repente são reconciliados. Casamentos mortos e moribundos são revitalizados. O
amor perdido é novamente encontrado. O cativeiro que leva a um comportamento
compulsivo e a um ciclo interminável de pecado é quebrado. É triste ver que,
nesta época de tanta terapia, usemos termos psicológicos para descrever
problemas espirituais para os quais a Bíblia tem uma definição e uma
prescrição. Chegamos a aceitar a crença de que muitos problemas espirituais não
podem ser revertidos ou radicalmente solucionados, mas que são necessários anos
de terapia e mudança gradual, se houver. Esta não é a maneira como a Bíblia
descreve a nossa reação ao pecado por meio do
arrependimento. Arrependimento verdadeiro pode trazer, e realmente traz,
mudanças radicais. Antes de tudo, precisamos nos voltar para a Palavra de Deus,
precisamos chamar o pecado por seu nome bíblico e precisamos exortar as pessoas
a reagir de forma bíblica: com arrependimento e fé.
Quando ocorre um verdadeiro arrependimento,
creio que ele é óbvio. Nosso texto não apenas descreve o verdadeiro
arrependimento em relação ao nosso pecado, ele o descreve de forma a sermos
capazes de reconhecê-lo nos outros. E, quando há arrependimento, temos a
obrigação de perdoar e receber esse indivíduo de volta à comunhão. Muitas
igrejas não exercem a disciplina e não chamam seus membros ao arrependimento.
Mas aquelas que o fazem, também precisam estar prontas e dispostas a reconhecer
o verdadeiro arrependimento, e a receber o pecador arrependido de volta à
comunhão.
Não quero ser como um dos amigos de Jó,
exortando ao arrependimento quando isso não é necessário. Nem toda provação ou
tribulação é decorrente de pecado. Há ocasiões, porém, em que as nossas
provações são graciosamente dadas por Deus para chamar a nossa atenção para o
pecado e para nos exortar ao arrependimento. Nessas ocasiões, que sejamos
rápidos para assumir a responsabilidade pelo nosso pecado, para confessá-lo e
abandoná-lo. Vamos procurar ver novamente as coisas de forma clara e, uma
vez mais, desfrutar das bênçãos da salvação e da comunhão com Deus.
Como Deus tratou com Davi diante dos seus
terríveis pecados?
Davi pecou terrivelmente diante de Deus,
muito embora Deus o tenha chamado de um homem segundo o coração de Deus. Nem
por isso Deus deixou de castigá-lo e nem deixou de ouvir suas súplicas e
orações de arrependimento.
Em 2 Samuel diz que o Senhor incitou Davi a
fazer um censo do povo. Lembrando que isso era pecado diante de Deus.
2 Sm.24:1 diz “E a ira do SENHOR se tornou a
acender contra Israel; e incitou a Davi contra eles, dizendo: Vai, numera
a Israel e a Judá”.
Em 1 Crônicas diz que foi Satanás quem
incitou Davi a isso.
1 Cr.21:1 “Então Satanás se levantou contra
Israel, e incitou Davi a numerar a Israel”.
Aqui nesta publicação vamos tratar com mais
profundidade do segundo pecado mais grave de Davi diante de Deus.
Há outras questões na Bíblia que parecem
contradição, como a da causa da morte de Judas, que em uma passagem diz que ele
se enforcou e em outra que caiu de uma certa altura e morreu. Na verdade as
duas coisas aconteceram: ele se enforcou e caiu, como aconteceu depois da
invasão de um país com um dos ministros daquela nação invadida, ele morreu
enforcado e decapitado, porque era muito gordo e pesado, e a corda da forca, ao
esticar, acabou arrancando sua cabeça com o impacto.
Tente imaginar que o mesmo que o que foi dito
de Davi sobre o censo do povo e as consequências que isso trouxe fosse dito de
Jó. Suponha que existisse uma passagem dizendo que o Senhor lançou sobre Jó
todo aquele sofrimento e em outra que foi Satanás quem fez isso.
Porém, como temos o texto de Jó bem
detalhado, aprendemos dele o "modus operandi" de Deus para com Jó.
Fica claro que foi ideia de Satanás causar todo aquele mal, mas que ele não
podia agir sem a permissão de Deus. Então precisou passar no céu e só saiu de lá
com essa permissão porque Deus tinha algo a ensinar a Jó. No frigir dos ovos,
Deus sempre cumpre os seus propósitos, ainda que tenham sido desencadeados pelo
diabo, que nem se dá conta de que ele não passa de um peão no tabuleiro de
Deus.
Portanto, na passagem do censo de Davi deve
ter acontecido o mesmo, já que temos em Jó uma "jurisprudência" do
modo de Deus administrar as coisas. Satanás maquina a coisa toda, Deus permite
porque quer transformar aquilo em um instrumento de disciplina para o seu povo,
e o diabo coloca seu plano em ação.
De tudo isso podemos aprender que o diabo não
tem poder para tocar no crente, a menos que tenha a permissão explícita de Deus
para isso. Mas essa permissão Deus só dará se entender que aquilo é uma forma
de nos disciplinar ou ensinar algo, fazendo com que o mal se transforme em bem
para nós e em mais uma derrota para o diabo.
Afinal, com a traição e condenação de Jesus à
cruz não parecia que o diabo estava levando vantagem? No entanto todas as suas
maquinações para instigar Judas e os outros visando aquele desfecho só serviram
para que Cristo consumasse a obra que viria a derrotar o diabo.
1 Jo.5:18, Sabemos que todo aquele que é
nascido de Deus não peca; mas o que de Deus é gerado conserva-se a si
mesmo, e o maligno não lhe toca.
Gn.50:20, Vós bem intentastes mal contra
mim; porém Deus o intentou para bem, para fazer como se vê neste dia, para
conservar muita gente com vida.
Davi e o seu pecado ao recensear o povo de
Israel e de Judá.
Por que Deus foi tão severo com o povo de
Israel quando foi Davi que pecou ao numerá-lo?
Davi, como bom pastor, é uma figura de Cristo
no Velho Testamento. Quando ainda muito jovem ele cuidava do rebanho de ovelhas
do seu pai, e aprendera a cultivar as virtudes necessárias para ser um bom
pastor. Nisso Deus o preparou para mais tarde ser o rei de Israel, e pastorear
aquele Seu rebanho. Foi também o aprendizado pelo qual passaram Moisés e o
profeta Amós.
Depois de ser ungido e aclamado rei, Davi
expulsou os inimigos que oprimiam o povo, ganhou para eles uma capital,
Jerusalém, onde consolidou o culto a Deus no tabernáculo, levou para lá a arca
do concerto com grande júbilo e instituiu ordem nas fileiras de sacerdotes e
levitas, corais e acompanhamento instrumental. Dotando ele próprio de grande
talento poético e musical, ele compôs grande parte dos salmos, literalmente o
arranhar dos instrumentos de cordas, inclusive o célebre Salmo 23 que trata do
Senhor como Bom Pastor.
A sua fidelidade ao SENHOR, o Deus de Israel,
e ao cumprimento das Suas leis e preceitos foi exemplar, ao ponto de ser o alto
padrão mediante o qual foram medidos todos os seus descendentes no trono de
Judá. Embora fosse um homem segundo o coração de Deus, ele tropeçou algumas
vezes, e dois dos seus pecados, revelados na Bíblia, se salientam pelas consequências
funestas que lhe trouxeram.
Relembrando que o seu primeiro pecado grave
diante de Deus, registrado em 2 Samuel 11, nos escandaliza por causa da
imoralidade de Davi e nos espanta pela solução encontrada por ele na morte de
Urias, um dos seus mais brilhantes soldados e amigo pessoal. Aos olhos de Deus,
porém, a gravidade maior foi a injustiça praticada por Davi. Essa injustiça foi
ilustrada pela parábola do profeta Natã, 2 Samuel 12:1-4. Davi se enfureceu com
o rico da parábola, dizendo que era digno de morte por ter matado a única
cordeira de estimação do pobre, notem o objeto da parábola, uma ovelha, o que
mais tocaria o coração de um pastor se não uma ovelha em apuros? Quando Natã
mostrou que Davi havia feito o mesmo que o rico, ao matar Urias e tomar para si
a sua mulher, ele percebeu a maldade do que havia feito, confessou o seu pecado
e o Senhor o perdoou.
Mas as consequências vieram mais tarde com o
escândalo promovido pelo seu filho Absalão, e a morte da criança que teve com a
mulher de Urias. É um dos exemplos onde vemos que, embora Deus perdoe o pecador
arrependido, os efeitos e as consequências do pecado ainda poderão surgir no
decorrer do tempo, no tempo de Deus.
O seu segundo pecado tão grave quanto o
primeiro está descrito em 2 Samuel 24 e em 1 Crônicas 21, foi muito mais sério
e devastador em suas consequências, e é evidenciado ainda mais por ser também
mencionado no livro das Crônicas.
Para respondermos à presente pergunta,
devemos nos referir a esses dois capítulos. Nos primeiros versículos,
encontramos o que parece ser uma discrepância: “A ira do SENHOR se tornou a
acender contra Israel, e ele incitou a Davi contra eles, dizendo: Vai, numera a
Israel e a Judá”, 2 Samuel 24:1. Se Davi estava obedecendo a uma ordem do
SENHOR, como poderia estar pecando?
No entanto, lemos em 1 Crônicas 21.1: “Então,
Satanás se levantou contra Israel e incitou Davi a numerar a Israel”.
Combinando os dois, descobrimos que “A ira do
SENHOR se tornou a acender contra Israel, “e com a Sua permissão” Satanás se
levantou contra Israel e incitou Davi a numerar a Israel”, que também incluía
Judá naquele tempo. Compreendemos assim que a ira do SENHOR se tornou a acender
contra Israel. Não nos é dito o motivo, nem quando, mas é certo que o povo de
Israel como um todo estava seriamente em falta e precisava de um corretivo.
Para punir Israel, o SENHOR usou Satanás para
tentar o seu rei. Satanás não podia tocar em Israel sem ter a permissão de
Deus, mas teve a perspicácia de ver que através do seu rei Davi ele poderia
subverter o povo. Então Satanás instigou Davi, não sabemos como, para numerar o
povo.
Davi foi tentado e Satanás deve ter observado
que, naquela altura dos acontecimentos, Davi aparentemente tinha dois pontos
fracos, autossatisfação e falta de confiança em Deus. Houve grande sutileza na
tentação, pois o ato de numerar o povo não era pecaminoso, desde que fosse de
acordo com a vontade de Deus.
Tudo indica que o recenseamento foi motivado
pelo desejo de Davi em conhecer o efetivo do seu exército, para aquilatar o seu
poder de combate, esquecendo-se que as vitórias foram obtidas unicamente
mediante a graça e o poder de Deus.
“Assim diz o SENHOR: Não se glorie o sábio na
sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua força; não se glorie o rico nas
suas riquezas. Mas o que se gloriar glorie-se nisto: em me conhecer e saber que
eu sou o SENHOR, que faço beneficência, juízo e justiça na terra; porque destas
coisas me agrado, diz o SENHOR”. Jeremias 9:23-24. O SENHOR não Se agradou
quando Davi mandou contar o povo, porque Davi não estava se gloriando no
SENHOR, mas em sua força. O que o motivou foi então o pecado de descrença. Davi
estava confiando em números ao invés de confiar em Deus. O SENHOR havia dado
instruções a Moisés sobre o recenseamento do povo e quando fosse feito, cada um
dos recenseados tinha que pagar o resgate de meio ciclo como oferta ao SENHOR,
para que não houvesse praga entre o povo, Êxodo 30:11-15. Não vemos menção
disto aqui e é possível que tenha sido esquecido.
Tantas vezes Davi havia consultado o SENHOR
sobre importantes medidas que deveria tomar e o SENHOR lhe dera a resposta.
Desta vez ele não consultou o SENHOR, mesmo quando Joabe procurou demovê-lo,
percebendo o motivo pecaminoso de Davi.
Não tendo conseguido dissuadir Davi, Joabe
levou avante o recenseamento, mas não o fez por completo porque “a palavra do
rei foi abominável a Joabe”, ele só contou os homens hábeis para a guerra e
omitiu os das tribos de Levi e Benjamim.
Deus mostrou Seu desagrado ferindo a Israel.
Davi então percebeu o alcance do seu pecado, e pediu que Deus tirasse a iniquidade
dele, pois procedera loucamente. Mas já era tarde demais. Entre os três
castigos que o SENHOR lhe propôs, Davi optou por cair ele próprio “nas mãos do
SENHOR, pois são grandes as Suas misericórdias”. Porém o SENHOR mandou uma
peste a Israel, mas a deteve em Jerusalém, onde Davi ofereceu um holocausto e
ofertas pacíficas a mandado do SENHOR.
Concluindo, vemos que tudo surgiu porque Deus
se desagradou com o povo, e o povo foi castigado quando as causas foram
descobertas, que eram a sua autossatisfação e a sua falta de confiança para com
Deus, demonstradas naquele ato rebelde de Davi em querer saber o tamanho de seu
contingente de soldados preparados para a guerra. Davi, embora não tivesse
sofrido fisicamente, ficou angustiado por causa do sofrimento do povo, por um
pecado que ele atribuiu a si próprio: “Não sou eu o que disse que se contasse o
povo? E eu mesmo sou o que pequei e fiz muito mal; mas estas ovelhas o que
fizeram? Ah! SENHOR, meu Deus, seja a tua mão contra mim e contra a casa de meu
pai e não para castigo de teu povo”. Era o bom pastor agoniado sentindo-se
responsável pelo sofrimento das suas ovelhas.
Nunca confiemos em estatísticas para
verificarmos a “nossa” vitória espiritual, os “nossos” recursos materiais e
espirituais, o número das “nossas” igrejas, para então nos regozijarmos em
“nossos” esforços. Isto depõe contra nossa dependência no Senhor da seara e nos
faz confiar em nossas próprias forças. “Se o SENHOR não edificar a casa, em vão
trabalham os que edificam; se o SENHOR não guardar a cidade, em vão vigia a
sentinela”, Salmo 127:1. Como é perigoso fazer do ministério um ídolo, e tornar
a obra nossa mais importante do que o Senhor da seara.
Quantas vezes deixamos de agradecer a Deus
nas reuniões administrativas, ministeriais e espirituais de nossas igrejas
locais, regionais ou mundiais, deixando de
mencionar as bênçãos espirituais recebidas de Deus para nos envolver
inteiramente em contar os fundos disponíveis, que geralmente estão deficitários,
campanhas materiais, arrecadação de novos fundos, novos dizimistas, o fraco
número de batismos durante o período e quantos membros a mais que deveriam ter adquiridos.
Muitos só reclamam dos algarismos, outros
dizem que acharam que foi uma grande vitória espiritual “de nossa parte”,
enquanto que, ao invés disso, outros se gabam de ter contribuído para constituir
na pior coisa possível de acontecer com uma organização religiosa evangélica que
é deixar de ser uma igreja espiritual para simplesmente se tornar num clube social.
Davi sabia que estaria bem nas mãos de Deus.
Confiemos também nEle quando passarmos por provações. “O Senhor corrige o que
ama e açoita a qualquer que recebe por filho”. Hebreus 12:6.
Mas também o Senhor é misericordioso, “Ele
abençoa o nosso pão e a nossa água todos os dias e tira do meio de nós todas as
enfermidades”. Êxodo 23.25.
Deus abençoe você e sua família.
Pr. Waldir Pedro de Souza.
Bacharel em Teologia, Pastor e Escritor.
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