segunda-feira, 17 de junho de 2024

A COMERCIALIZAÇÃO DA FÉ CHEGOU AOS LIMITES DA VERGONHA

A COMERCIALIZAÇÃO DA FÉ CHEGOU AOS LIMITES DA VERGONHA.

 

Antes de entrar na matéria do tema em referência quero afirmar que todos os trabalhadores da obra de Deus são merecedores e dignos dos seus salários e de suas prebendas desde que tenham um padrão de conhecimento e sejam aceitos pelos membros e principalmente pelo corpo administrativo de obreiros de cada igreja.

Em 31 de outubro de 1517, ocorria na Alemanha a Reforma protestante, que, entre outras coisas, combateu a comercialização de bênçãos que na prática era chamada de vendas de indulgências e o perdão para todas as supersticiosidades religiosa. Tudo na igreja da ordem Católica Romana era vendido, tinha que ser comprado qualquer benção ou perdão que as pessoas desejassem receber para si próprio ou, para os seus familiares, principalmente para os mortos. Sem o documento de pagamento das indulgências  ninguém “entraria” no purgatório e muito menos no céu. Para se obter o perdão e a autorização para entrar no purgatório e depois no céu era obrigatório se pagar as indulgências se não o destino era o inferno.

Hoje, algumas igrejas ditas evangélicas se veem ameaçadas por inovações, modismos e crendices que solapam a genuína doutrina bíblica, e estão se utilizando de métodos nada honestos com o povo, porque só visam o lucro num verdadeiro comércio da fé. Para isso é utilizado todos os meios possíveis de convencimento das pessoas pelas redes sociais, tv,s e todos os meios eletrônicos disponíveis. É a venda de indulgências do mundo moderno por igrejas, pastores, bispos e apóstolos, numa verdadeira situação de semelhança com os erros do passado do catolicismo romano, tão combatido pelos reformistas da igreja nos tempos de Martinho Lutero.

Inventam todos os tipos de cursos e de campanhas para mudar o sentido do convencimento dos fieis para alcançar seus objetivos financeiros e suas metas diárias.  

A comercialização da fé chegou com muita força no Brasil e causa vergonha aos verdadeiros cristãos.

Muitas igrejas ditas evangélicas e neopentecostais, estão reeditando as práticas do clero romano da igreja medieval dos tempos  em que se perdeu totalmente o temor e a comunhão com estes que se achavam tão “santos” que até vendiam a salvação por meio das indulgências. O apóstolo Pedro no seu tempo aqui na terra já fazia sérias advertências neste particular, (1 Pd 5.2,3; 2 Pd 2.1-3).

A Bíblia denomina de mercenários aqueles que usam das coisas sagradas em benefício próprio, visando tão somente tirar vantagem e lucro para si. (Jo 10.11-13; Fp 3. 17-19).

Um exemplo do exposto anteriormente é o caso de Demas, ele era companheiro de Paulo na obra de Deus, mas abandonou o apóstolo e foi para Tessalônica, possivelmente em busca de maiores lucros e ganhos financeiro, pois Tessalônica era uma cidade próspera onde corria muito dinheiro. (2Tm 4.10).

Os mercadores da fé oferecem de tudo como forma de atrair as pessoas, tais como: anéis ungidos, rosas perfumadas, medalhas imantadas para alcançar sucesso nos seus empreendimentos, sabonete ungido para purificação do corpo, sal do Mar Morto ou sal grosso para proteger a pessoa do olho mal, venda de profecias , venda de revelações, entre outras coisas. Ainda pedem as ofertas do sacrifício pessoal que pode ser: relógios, bicicleta, rádio, TV, carro, casa, tudo via meios eletrônicos ou outros com a maior facilidade.

O apóstolo Paulo adverte que nos afastemos de homens fraudulentos que se infiltram na igreja com aparência de piedade, mas trazem ensinamentos contrários para tirar proveito próprio daquela igreja. (1Tm 6.3-5; 2 Tm 3.5). São lobos devoradores vestidos de ovelhas.

Os modismos na igreja evangélica do século vinte e um tornaram-se constantes e chamam muito a atenção.

A obra de Deus precisa de dinamismo, criatividade, estratégia e fervor para ganhar almas para o reino de Deus, mas é preciso cuidado com as práticas sem respaldo bíblico. Deus não aceita fogo estranho no altar, no culto, porém é o que mais tem acontecido hoje em dia. (Lv 10.1-3)

Para colocar ordem na realização dos cultos da igreja em Corinto, Paulo foi muito específico e enfático ao ensinar que os dons, ministérios e operações de milagres são dados pelo Espírito Santo a cada um para o que for útil. (1Co 12.4-7); Quando no ajuntamento dos crentes  para cultuar a Deus, cada um tem salmo, doutrina, revelação, línguas, interpretação, e que tudo seja feito para a edificação da igreja. Paulo observa que Deus não é de confusão, e que, portanto, faça-se tudo com decência e ordem. (1Co 14.26,33,40).

Não seria esse o padrão a ser seguido pelas igrejas ditas evangélicas em nossos dias?

O temor de Paulo, já em seu tempo, era que a igreja se afastasse da simplicidade que há em Cristo, levada por uma pregação que nada tem a ver com o genuíno Evangelho, o evangelho da verdade. (2Co 11.3,4). Paulo repreendeu os gálatas pelo fato destes terem passado para outro evangelho o qual era bem diferente do Evangelho de Cristo. (Gl 1.6-8).

Superstição entre os crentes nestes tempos de modernidade teológica.

Superstição é um sentimento religioso excessivo que leva à pratica de atos indevidos e absurdos. A Bíblia faz referência à superstição religiosa nas palavras de Paulo aos atenienses em Atos 17.22: “E, estando Paulo no meio do Areópago, disse: Varões atenienses, em tudo vos vejo um tanto supersticiosos”.

Há muitos lideres evangélicos e muitos crentes com comportamentos e atitudes supersticiosos, como os que se seguem abaixo:

A prática de apagar pecados queimando papeis numa cruz feita cavando na terra em forma de cruz, onde as pessoas escrevem seus pecados em papéis e o lançam naquela cruz feita no chão e é colocado o fogo ao som de instrumentos, cantos e danças. Acreditam que precisam escrever todos os seus pecados em pedaços de papel e jogá-los em uma fogueira para eliminá-los por completo. Mas, e o sangue de Jesus? Já não mais nos purifica de todos os pecados? (1Jo 1.7);

Deixar a Bíblia aberta no Salmo 91 ou em qualquer outro salmo como o 23 ou qualquer outro como se aquilo fosse uma reza ou oração forte de proteção, enquanto que isso não tem valor nenhum, o que tem valor é o exercício diuturno da leitura bíblica que é a palavra de Deus, e está leitura bíblica pode ser de qualquer lugar da Bíblia. Devemos confiar plenamente no Deus do Salmo, não no Salmo em si. Tal prática é um sentimento supersticioso. Esteja a Bíblia aberta ou fechada, Deus sempre guarda aqueles que o temem e os livra.

A crença exacerbada em anjo da guarda deve ser evitada.  É verdade que os anjos do Senhor são enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação, (Hb 1.14), mas não podemos supervalorizar os anjos chegando a tornar-se uma angelolatria, que é a idolatria dos anjos. (Cl 2.18).

Em algumas igrejas, há práticas que chegam a imitar espiritistas de todas as linhas espíritas tais como: Caminhar sobre sal grosso; Caminhar descalço nas brasas de fogo; Usar roupa branca em determinado dia, como por exemplo no réveillon na passagem de ano, roupas folclóricas de festas de santos como as festas juninas. Campanhas do descarrego; Oração “forte” contra olho gordo; Oração “forte” para tirar o encosto; Regressão espiritual intrauterina. Hipnose com a aplicação da parapsicologia. Ouve-se também expressões no meio evangélico que nada tem a ver com a terminologia bíblica como, Canela de fogo; Sapato de fogo; Vassoura de fogo. A orientação Paulina é que não devemos ir além dos limites impostos pela Palavra de Deus, mas deve ser conforme o que nela está escrito, (1Co 4.6).

O uso de objetos e símbolos de outras religiões e culturas nos cultos também são abominação ao Senhor, são comparados com a idolatria.

O Antigo Testamento é rico em tipologia, no sentido de tornar mais compreensível a comunicação de Deus com Seu povo, Israel, (Hb 10.1). Mas ainda que a Bíblia apresente figuras materiais para ilustrar a fé, especialmente no A.T, temos no Novo Testamento a  regra que diz: “De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus”. (Rm 10.17). Os livros dos profetas no Velho Testamento e também o Apocalipse no Novo Testamento são cheios de figuras representativas de situações proféticas e não objetos de adoração.

Os objetos usados em muitas igrejas evangélicas fazendo parte do culto ao Senhor Jesus não passam de verdadeiros amuletos se forem apresentados com fins comerciais, tais como: O copo com água em cima do aparelho receptor no intuito de vender garrafas de água; A rosa ungida; A unção coletiva, no intuito de vender o óleo; Unção de carteira de trabalho, desde que o indivíduo se comprometa a dar o primeiro salário para aquela instituição; oração por fotos de pessoas que querem se casar mesmo sabendo que já são casadas, orações por roupas para fins amorosos, etc.;

Posso orar por uma pessoa através de sua foto?

Os casos de objetos usados na Bíblia como ato simbólico de fé, é a exceção, não a regra, que ocorriam espontaneamente, como no caso dos lenços e aventais de Paulo que foram usados por terceiros para a cura de enfermos, (Atos 19.12). Paulo não confeccionou lenços e aventais para utilizá-los na realização de curas e milagres, era de seu uso pessoal. Paulo usava o método ensinado por Cristo: “E Deus, pelas mãos de Paulo, fazia milagres e maravilhas extraordinárias”. (v.11).

Os modismos não edificam a igreja, mas tem grande facilidade de entrar nela. A igreja evangélica hodierna, se vê ameaçada pelos mesmos modismos que foram denunciados e rejeitados pelos reformadores. Oremos pela igreja evangélica brasileira, e apregoemos a sã doutrina da Palavra de Deus, quer ouçam, quer deixem de ouvir.

Sobre a casa de oração, Jesus Cristo foi ao templo para ver que tipo de culto o povo estava prestando ao Senhor.

A casa de oração no tempo de Jesus tornara-se lugar de comércio e de poder, disfarçados em cultos piedosos.

Expulsando os comerciantes, Jesus denuncia a opressão e a exploração dos pobres pelas autoridades religiosas. Prevendo a ruína do templo, ele mostra que essa instituição religiosa já estava falida. Doravante, o verdadeiro Templo é o corpo de Jesus, que é morto, mas ressuscita. Deus não quer habitar em edifícios, mas na própria pessoa. O apóstolo Paulo afirma que nosso corpo é templo do Espírito Santo. (1Cor 3.16; 6.20).

Os templos são locais, ou pelo menos deveriam ser, de oração e de adoração exclusiva ao Senhor Deus. Fora disso são meros locais de apresentações de shows se não tiverem o cuidado devido de manter a reverência que Deus merece em toda a extensão da palavra, incluindo os objetos e instrumentos de louvor ao Senhor e a todos os que cantam e ministram a Palavra de Deus nos púlpitos consagrados a Deus.

O Evangelho de João é conhecido como “Evangelho do amor”. Nesse relato, no entanto, ele apresenta Jesus em um momento de ira, de revolta. João aponta para um Jesus humano, que também teve seus momentos de raiva e indignação. Ele estava ali para cuidar da casa de seu Pai, para mudar práticas.

Por vezes, achamos tudo tão normal e relativizamos tudo na vida e no mundo, que já não questionamos mais nada. Ouvimos muitas vezes: “a vida é assim mesmo, não tem jeito e não temos mais nada que fazer”. Jesus muda a realidade do templo e aponta um problema. O templo girava em torno da economia e legitimava o sistema econômico, que por sua vez, justificava o político e o ideológico. E sabemos que o econômico era decidido pelo Império Romano. Eram suas autoridades que designavam o sumo sacerdote, que por sua vez, legitimava a opressão via religião. Jesus diz no versículo 16: “Tirem tudo isto daqui! Parem de fazer da casa do meu Pai um covil de salteadores”.

Mateus 21:12-16,46.

12. E entrou Jesus no templo de Deus, e expulsou todos os que vendiam e compravam no templo, e derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas.

13. E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração. Mas vós a tendes convertido em covil de ladrões.

14. E foram ter com ele ao templo cegos e coxos, e curou-os.

15. Vendo, então, os principais dos sacerdotes e os escribas as maravilhas que fazia e os meninos clamando no templo: Hosana ao Filho de Davi, indignaram-se,

16. e disseram-lhe: Ouves o que estes dizem? E Jesus lhes disse: Sim; nunca lestes: Pela boca dos meninos e das criancinhas de peito tiraste o perfeito louvor?

17. E, deixando-os, saiu da cidade para Betânia e ali passou a noite.

46. e, pretendendo prendê-lo, recearam o povo, porquanto o tinham por profeta.

Marcos 11:15-17.

15 Chegando a Jerusalém, Jesus entrou no templo e ali começou a expulsar os que estavam comprando e vendendo. Derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas,

16 e não permitia que ninguém carregasse mercadorias pelo templo.

17 E ele os ensinava, dizendo: "Não está escrito: A minha casa será chamada casa de oração para todos os povos? “Mas vocês fizeram dela um 'covil de ladrões”.

O problema não era somente vender algumas pombas e cabritos, mas era, na verdade, a venda de todo um país, do povo e do projeto de Deus. Assim, para Jesus, o templo era um empecilho para a construção do Reino de Deus, quando deveria ser o contrário.

O texto do Evangelho de João leva-nos também a refletir e questionar sobre a prática da Igreja hoje. Estamos num tempo onde se vende de tudo nas igrejas, como sabonetes abençoados, espadim para lutar com o diabo, envelopes para fogueira santa, enfim, uma infinidade de ‘produtos’ para alcançar a salvação.

O tempo dos sacrifícios e holocaustos já passou. Jesus veio ao mundo, cumprindo sua missão até o sacrifício derradeiro. “Pois o sangue de touros e de bodes não pode, de modo nenhum, tirar os pecados de ninguém. Por isso, Cristo, ao entrar no mundo disse: ‘Tu, ó Deus, não queres animais oferecidos em sacrifícios nem ofertas de cereais, mas preparaste um corpo para mim. Não te agradam as ofertas de animais queimados inteiros no altar, nem os sacrifícios oferecidos para tirar pecados’” (Hebreus 10.4-6).

Jesus quer que ofereçamos a nossa vida para cumprir a vontade de Deus. Quer que o sirvamos com nossas bocas, nossas mãos, nossos pés, nosso corpo inteiro, no cuidado aos menos favorecidos, na busca por justiça, igualdade e vida abundante para todos e todas.

Creio que esta narrativa de João, situada no início do ministério de Jesus, tem o propósito de mostrar, logo de cara, que Jesus vinha para mudar as práticas religiosas. Vinha para mostrar ao mundo que o amor às pessoas é o maior desejo de Deus. Que os sacrifícios e holocaustos deveriam estar a serviço do próximo. Por isso, ele mesmo doou sua via por amor ao Pai e ao mundo. Amém.

Deus abençoe você e sua família.

 

Pr. Waldir Pedro de Souza

Bacharel em Teologia, Pastor e Escritor.

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