A COMERCIALIZAÇÃO DA FÉ CHEGOU AOS LIMITES DA VERGONHA.
Antes de entrar na matéria do tema em
referência quero afirmar que todos os trabalhadores da obra de Deus são
merecedores e dignos dos seus salários e de suas prebendas desde que tenham um
padrão de conhecimento e sejam aceitos pelos membros e principalmente pelo corpo
administrativo de obreiros de cada igreja.
Em 31 de outubro de 1517, ocorria na Alemanha
a Reforma protestante, que, entre outras coisas, combateu a comercialização de
bênçãos que na prática era chamada de vendas de indulgências e o perdão para
todas as supersticiosidades religiosa. Tudo na igreja da ordem Católica Romana
era vendido, tinha que ser comprado qualquer benção ou perdão que as pessoas desejassem
receber para si próprio ou, para os seus familiares, principalmente para os
mortos. Sem o documento de pagamento das indulgências ninguém “entraria” no purgatório e muito
menos no céu. Para se obter o perdão e a autorização para entrar no purgatório e
depois no céu era obrigatório se pagar as indulgências se não o destino era o inferno.
Hoje, algumas igrejas ditas evangélicas se
veem ameaçadas por inovações, modismos e crendices que solapam a genuína
doutrina bíblica, e estão se utilizando de métodos nada honestos com o povo,
porque só visam o lucro num verdadeiro comércio da fé. Para isso é utilizado
todos os meios possíveis de convencimento das pessoas pelas redes sociais, tv,s
e todos os meios eletrônicos disponíveis. É a venda de indulgências do mundo
moderno por igrejas, pastores, bispos e apóstolos, numa verdadeira situação de
semelhança com os erros do passado do catolicismo romano, tão combatido pelos
reformistas da igreja nos tempos de Martinho Lutero.
Inventam todos os tipos de cursos e de
campanhas para mudar o sentido do convencimento dos fieis para alcançar seus objetivos
financeiros e suas metas diárias.
A comercialização da fé chegou com muita
força no Brasil e causa vergonha aos verdadeiros cristãos.
Muitas igrejas ditas evangélicas e
neopentecostais, estão reeditando as práticas do clero romano da igreja
medieval dos tempos em que se perdeu
totalmente o temor e a comunhão com estes que se achavam tão “santos” que até
vendiam a salvação por meio das indulgências. O apóstolo Pedro no seu tempo
aqui na terra já fazia sérias advertências neste particular, (1 Pd 5.2,3;
2 Pd 2.1-3).
A Bíblia denomina de mercenários aqueles que
usam das coisas sagradas em benefício próprio, visando tão somente tirar
vantagem e lucro para si. (Jo 10.11-13; Fp 3. 17-19).
Um exemplo do exposto anteriormente é o caso
de Demas, ele era companheiro de Paulo na obra de Deus, mas abandonou o
apóstolo e foi para Tessalônica, possivelmente em busca de maiores lucros e ganhos
financeiro, pois Tessalônica era uma cidade próspera onde corria muito dinheiro.
(2Tm 4.10).
Os mercadores da fé oferecem de tudo como
forma de atrair as pessoas, tais como: anéis ungidos, rosas perfumadas,
medalhas imantadas para alcançar sucesso nos seus empreendimentos, sabonete
ungido para purificação do corpo, sal do Mar Morto ou sal grosso para proteger
a pessoa do olho mal, venda de profecias , venda de revelações, entre outras
coisas. Ainda pedem as ofertas do sacrifício pessoal que pode ser: relógios,
bicicleta, rádio, TV, carro, casa, tudo via meios eletrônicos ou outros com a
maior facilidade.
O apóstolo Paulo adverte que nos afastemos de
homens fraudulentos que se infiltram na igreja com aparência de piedade, mas
trazem ensinamentos contrários para tirar proveito próprio daquela igreja. (1Tm
6.3-5; 2 Tm 3.5). São lobos devoradores vestidos de ovelhas.
Os modismos na igreja evangélica do século
vinte e um tornaram-se constantes e chamam muito a atenção.
A obra de Deus precisa de dinamismo,
criatividade, estratégia e fervor para ganhar almas para o reino de Deus, mas é
preciso cuidado com as práticas sem respaldo bíblico. Deus não aceita fogo
estranho no altar, no culto, porém é o que mais tem acontecido hoje em dia. (Lv
10.1-3)
Para colocar ordem na realização dos cultos
da igreja em Corinto, Paulo foi muito específico e enfático ao ensinar que
os dons, ministérios e operações de milagres são dados pelo Espírito Santo
a cada um para o que for útil. (1Co 12.4-7); Quando no ajuntamento
dos crentes para cultuar a Deus, cada um tem salmo, doutrina,
revelação, línguas, interpretação, e que tudo seja feito para a edificação
da igreja. Paulo observa que Deus não é de confusão, e que, portanto, faça-se
tudo com decência e ordem. (1Co 14.26,33,40).
Não seria esse o padrão a ser seguido pelas
igrejas ditas evangélicas em nossos dias?
O temor de Paulo, já em seu tempo, era que a
igreja se afastasse da simplicidade que há em Cristo, levada por uma pregação
que nada tem a ver com o genuíno Evangelho, o evangelho da verdade. (2Co
11.3,4). Paulo repreendeu os gálatas pelo fato destes terem passado para outro
evangelho o qual era bem diferente do Evangelho de Cristo. (Gl 1.6-8).
Superstição entre os crentes nestes tempos de
modernidade teológica.
Superstição é um sentimento religioso
excessivo que leva à pratica de atos indevidos e absurdos. A Bíblia faz
referência à superstição religiosa nas palavras de Paulo aos atenienses em Atos
17.22: “E, estando Paulo no meio do Areópago, disse: Varões atenienses, em
tudo vos vejo um tanto supersticiosos”.
Há muitos lideres evangélicos e muitos
crentes com comportamentos e atitudes supersticiosos, como os que se seguem
abaixo:
A prática de apagar pecados queimando papeis
numa cruz feita cavando na terra em forma de cruz, onde as pessoas escrevem
seus pecados em papéis e o lançam naquela cruz feita no chão e é colocado o
fogo ao som de instrumentos, cantos e danças. Acreditam que precisam
escrever todos os seus pecados em pedaços de papel e jogá-los em uma fogueira
para eliminá-los por completo. Mas, e o sangue de Jesus? Já não mais nos
purifica de todos os pecados? (1Jo 1.7);
Deixar a Bíblia aberta no Salmo 91 ou em
qualquer outro salmo como o 23 ou qualquer outro como se aquilo fosse uma reza
ou oração forte de proteção, enquanto que isso não tem valor nenhum, o que tem
valor é o exercício diuturno da leitura bíblica que é a palavra de Deus, e está
leitura bíblica pode ser de qualquer lugar da Bíblia. Devemos confiar
plenamente no Deus do Salmo, não no Salmo em si. Tal prática é um sentimento
supersticioso. Esteja a Bíblia aberta ou fechada, Deus sempre guarda aqueles
que o temem e os livra.
A crença exacerbada em anjo da guarda deve
ser evitada. É verdade que os anjos do Senhor são enviados para servir a
favor daqueles que hão de herdar a salvação, (Hb 1.14), mas não podemos
supervalorizar os anjos chegando a tornar-se uma angelolatria, que é a
idolatria dos anjos. (Cl 2.18).
Em algumas igrejas, há práticas que chegam a
imitar espiritistas de todas as linhas espíritas tais como: Caminhar sobre sal
grosso; Caminhar descalço nas brasas de fogo; Usar roupa branca em
determinado dia, como por exemplo no réveillon na passagem de ano, roupas
folclóricas de festas de santos como as festas juninas. Campanhas do
descarrego; Oração “forte” contra olho gordo; Oração “forte” para tirar o
encosto; Regressão espiritual intrauterina. Hipnose com a aplicação da parapsicologia.
Ouve-se também expressões no meio evangélico que nada tem a ver com a
terminologia bíblica como, Canela de fogo; Sapato de fogo; Vassoura de fogo. A
orientação Paulina é que não devemos ir além dos limites impostos pela Palavra
de Deus, mas deve ser conforme o que nela está escrito, (1Co 4.6).
O uso de objetos e símbolos de outras
religiões e culturas nos cultos também são abominação ao Senhor, são comparados
com a idolatria.
O Antigo Testamento é rico em tipologia, no
sentido de tornar mais compreensível a comunicação de Deus com Seu povo, Israel,
(Hb 10.1). Mas ainda que a Bíblia apresente figuras materiais para ilustrar a
fé, especialmente no A.T, temos no Novo Testamento a regra que diz: “De
sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus”. (Rm 10.17). Os
livros dos profetas no Velho Testamento e também o Apocalipse no Novo
Testamento são cheios de figuras representativas de situações proféticas e não
objetos de adoração.
Os objetos usados em muitas igrejas
evangélicas fazendo parte do culto ao Senhor Jesus não passam de verdadeiros
amuletos se forem apresentados com fins comerciais, tais como: O copo com água
em cima do aparelho receptor no intuito de vender garrafas de água; A rosa
ungida; A unção coletiva, no intuito de vender o óleo; Unção de carteira de
trabalho, desde que o indivíduo se comprometa a dar o primeiro salário para
aquela instituição; oração por fotos de pessoas que querem se casar mesmo
sabendo que já são casadas, orações por roupas para fins amorosos, etc.;
Posso orar por uma pessoa através de sua foto?
Os casos de objetos usados na Bíblia como ato
simbólico de fé, é a exceção, não a regra, que ocorriam espontaneamente, como
no caso dos lenços e aventais de Paulo que foram usados por terceiros para a
cura de enfermos, (Atos 19.12). Paulo não confeccionou lenços e aventais para
utilizá-los na realização de curas e milagres, era de seu uso pessoal. Paulo usava
o método ensinado por Cristo: “E Deus, pelas mãos de Paulo, fazia milagres e maravilhas
extraordinárias”. (v.11).
Os modismos não edificam a igreja, mas tem
grande facilidade de entrar nela. A igreja evangélica hodierna, se vê ameaçada
pelos mesmos modismos que foram denunciados e rejeitados pelos reformadores. Oremos
pela igreja evangélica brasileira, e apregoemos a sã doutrina da Palavra de
Deus, quer ouçam, quer deixem de ouvir.
Sobre a casa de oração, Jesus Cristo foi ao
templo para ver que tipo de culto o povo estava prestando ao Senhor.
A casa de oração no tempo de Jesus tornara-se
lugar de comércio e de poder, disfarçados em cultos piedosos.
Expulsando os comerciantes, Jesus denuncia a
opressão e a exploração dos pobres pelas autoridades religiosas. Prevendo a
ruína do templo, ele mostra que essa instituição religiosa já estava falida.
Doravante, o verdadeiro Templo é o corpo de Jesus, que é morto, mas ressuscita.
Deus não quer habitar em edifícios, mas na própria pessoa. O apóstolo Paulo
afirma que nosso corpo é templo do Espírito Santo. (1Cor 3.16; 6.20).
Os templos são locais, ou pelo menos deveriam
ser, de oração e de adoração exclusiva ao Senhor Deus. Fora disso são meros
locais de apresentações de shows se não tiverem o cuidado devido de manter a
reverência que Deus merece em toda a extensão da palavra, incluindo os objetos
e instrumentos de louvor ao Senhor e a todos os que cantam e ministram a
Palavra de Deus nos púlpitos consagrados a Deus.
O Evangelho de João é conhecido como
“Evangelho do amor”. Nesse relato, no entanto, ele apresenta Jesus em um
momento de ira, de revolta. João aponta para um Jesus humano, que também teve
seus momentos de raiva e indignação. Ele estava ali para cuidar da casa de seu
Pai, para mudar práticas.
Por vezes, achamos tudo tão normal e
relativizamos tudo na vida e no mundo, que já não questionamos mais nada.
Ouvimos muitas vezes: “a vida é assim mesmo, não tem jeito e não temos mais
nada que fazer”. Jesus muda a realidade do templo e aponta um problema. O
templo girava em torno da economia e legitimava o sistema econômico, que por
sua vez, justificava o político e o ideológico. E sabemos que o econômico era
decidido pelo Império Romano. Eram suas autoridades que designavam o sumo
sacerdote, que por sua vez, legitimava a opressão via religião. Jesus diz no
versículo 16: “Tirem tudo isto daqui! Parem de fazer da casa do meu Pai um
covil de salteadores”.
Mateus 21:12-16,46.
12. E entrou Jesus no templo de Deus, e expulsou
todos os que vendiam e compravam no templo, e derribou as mesas dos cambistas e
as cadeiras dos que vendiam pombas.
13. E disse-lhes: Está escrito: A minha casa
será chamada casa de oração. Mas vós a tendes convertido em covil de ladrões.
14. E foram ter com ele ao templo cegos e
coxos, e curou-os.
15. Vendo, então, os principais dos
sacerdotes e os escribas as maravilhas que fazia e os meninos clamando no
templo: Hosana ao Filho de Davi, indignaram-se,
16. e disseram-lhe: Ouves o que estes dizem?
E Jesus lhes disse: Sim; nunca lestes: Pela boca dos meninos e das criancinhas
de peito tiraste o perfeito louvor?
17. E, deixando-os, saiu da cidade para
Betânia e ali passou a noite.
46. e, pretendendo prendê-lo, recearam o
povo, porquanto o tinham por profeta.
Marcos 11:15-17.
15 Chegando a Jerusalém, Jesus entrou no
templo e ali começou a expulsar os que estavam comprando e vendendo. Derrubou
as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas,
16 e não permitia que ninguém carregasse mercadorias
pelo templo.
17 E ele os ensinava, dizendo: "Não está
escrito: A minha casa será chamada casa de oração para todos os povos? “Mas
vocês fizeram dela um 'covil de ladrões”.
O problema não era somente vender algumas
pombas e cabritos, mas era, na verdade, a venda de todo um país, do povo e do
projeto de Deus. Assim, para Jesus, o templo era um empecilho para a construção
do Reino de Deus, quando deveria ser o contrário.
O texto do Evangelho de João leva-nos também
a refletir e questionar sobre a prática da Igreja hoje. Estamos num tempo onde
se vende de tudo nas igrejas, como sabonetes abençoados, espadim para lutar com
o diabo, envelopes para fogueira santa, enfim, uma infinidade de ‘produtos’
para alcançar a salvação.
O tempo dos sacrifícios e holocaustos já
passou. Jesus veio ao mundo, cumprindo sua missão até o sacrifício derradeiro.
“Pois o sangue de touros e de bodes não pode, de modo nenhum, tirar os pecados
de ninguém. Por isso, Cristo, ao entrar no mundo disse: ‘Tu, ó Deus, não queres
animais oferecidos em sacrifícios nem ofertas de cereais, mas preparaste um
corpo para mim. Não te agradam as ofertas de animais queimados inteiros no
altar, nem os sacrifícios oferecidos para tirar pecados’” (Hebreus 10.4-6).
Jesus quer que ofereçamos a nossa vida para
cumprir a vontade de Deus. Quer que o sirvamos com nossas bocas, nossas mãos,
nossos pés, nosso corpo inteiro, no cuidado aos menos favorecidos, na busca por
justiça, igualdade e vida abundante para todos e todas.
Creio que esta narrativa de João, situada no
início do ministério de Jesus, tem o propósito de mostrar, logo de cara, que
Jesus vinha para mudar as práticas religiosas. Vinha para mostrar ao mundo que
o amor às pessoas é o maior desejo de Deus. Que os sacrifícios e holocaustos deveriam
estar a serviço do próximo. Por isso, ele mesmo doou sua via por amor ao Pai e
ao mundo. Amém.
Deus abençoe você e sua família.
Pr. Waldir Pedro de Souza
Bacharel em Teologia, Pastor e Escritor.
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