segunda-feira, 6 de maio de 2024

AS DIFERENÇAS ENTRE JUDAS ISCARIOTES E MATIAS

AS DIFERENÇAS ENTRE JUDAS ISCARIOTES E MATIAS

 

As histórias antagônicas de Judas Iscariotes e Matias.

Judas Iscariotes teve toda a oportunidade da vida para ser verdadeiramente um apóstolo de Jesus, mas preferiu ser o traidor, aquele que o vendeu por 30 moedas de prata; ele teve toda honra de seus colegas apóstolos como também de Jesus, mas preferiu, por ganância, ser o traidor de Jesus.

Matias que não era conhecido, porém era um servo de Deus e temente ao Senhor, foi escolhido por Pedro e os outros apóstolos para ser considerado o décimo segundo apóstolo em lugar de Judas Iscariotes.

Todos os Evangelhos colocam Judas Iscariotes no fim da lista dos discípulos de Jesus. Sem dúvida alguma isso reflete a má fama de Judas como traidor de Jesus.

A Palavra aramaica Iscariotes literalmente significa "homem de Queriote". Queriote ou Quiriote era uma cidade próxima a Hebrom, (Js 15.25). O apóstolo João diz-nos que Judas era filho de Simão. (Jo 6.71).

Várias pessoas são citadas na Bíblia com o nome Simão. Vamos identificar cada um para sabermos quem era o Simão pai de Judas Iscariotes.

Simão era um nome comum nos tempos do Novo Testamento. Por esse motivo muitos homens na Bíblia são chamados de Simão. É amplamente aceito que esse nome é uma variante de Simeão, um nome que aparece no Antigo Testamento e que transmite um significado relacionado a “ouvir” no hebraico.

Quem são os homens chamados de Simão na Bíblia?

Pelo menos nove personagens bíblicos são mencionados no Novo Testamento pelo nome de Simão. A seguir, vamos conhecer uma breve apresentação de cada um deles:

1. Simão, chamado Pedro: o apóstolo Pedro certamente é o personagem bíblico mais conhecido com esse nome. Comparado aos outros Simão, é dele que se têm mais informações na Bíblia. Seu nome era Simão, e Jesus o chamou de Pedro (Mateus 16:18; Marcos 3:16). Seu pai se chamava Jonas e seu irmão, André, que também era um dos doze apóstolos de Jesus. (Mateus 16:17; João 21:15).

2. Simão Zelote: esse era outro apóstolo do Senhor Jesus. Ele também aparece sendo chamado de “o nacionalista” ou “o cananeu” (Mateus 10:4; Marcos 3:18). Todas essas designações se referem ao fato de que ele pertencia ao grupo separatista chamado Zelotes.

3. Simão, pai de Judas Iscariotes: o texto bíblico nos informa que o pai de Judas Iscariotes, o discípulo que traiu o Senhor Jesus, também tinha esse nome. (João 6:71; 13:2,26).

4. Simão, irmão de Jesus: um homem chamado Simão também é citado ao lado de Tiago, Judas e José, como sendo um dos irmãos do Senhor Jesus, (Mateus 13:55; Marcos 6:3). A Bíblia diz que Jesus teve irmãos. Os irmãos de Jesus são mencionados em vários versículos da Bíblia. Mateus 12:46, Lucas 8:19 e Marcos 3:31 dizem que a mãe de Jesus e seus irmãos vieram vê-lO. A Bíblia nos diz que Jesus tinha quatro irmãos: Tiago, José, Simão e Judas, (Mateus 13:55). A Bíblia também nos diz que Jesus tinha irmãs, mas não sabemos seus nomes ou a quantidade, (Mateus 13:56). Em João 7:1-10 seus irmãos vão para um festival, mas Jesus não vai com eles. Atos 1:14 descreve seus irmãos e mãe orando com os discípulos. Depois, Gálatas 1:19 menciona que Tiago era irmão de Jesus. E o próprio Tiago confirma em sua carta Tiago 1.1 “Tiago irmão do Senhor”. A conclusão mais natural dessas passagens é interpretar que Jesus tinha irmãos e irmãs sanguíneos.

5. Simão, o fariseu: o Evangelho de Lucas registra o episódio em que Jesus foi convidado por um fariseu chamado Simão para comer em sua casa. Naquela ocasião uma mulher pecadora levou um vaso de alabastro com unguento e ungiu o Senhor Jesus. O fariseu ficou incomodado com a atitude de Jesus com relação àquela mulher pecadora. Por isso ele foi repreendido pelo Senhor.

6. Simão, o leproso: na casa desse homem foi oferecido um jantar a Jesus, e Maria, irmã de Lázaro, também ungiu o Senhor. Provavelmente esse Simão havia sido curado por Jesus. (Marcos 14:3-9; João 12:1-8).

7. Simão Cireneu: um homem que ficou conhecido por ter sido convocado a carregar a cruz de Jesus em um determinado momento. Ele provavelmente foi o pai de duas pessoas conhecidas dos crentes de Roma. (Marcos 15:21; cf. Romanos 16:13).

8. Simão, o mago: esse homem era um mágico na cidade de Samaria quando o evangelista Filipe pregou o Evangelho ali, (Atos 8:9,13). Quando os apóstolos Pedro e João chegaram naquela cidade, ele tentou comprar o poder do Espírito Santo, e por isso foi repreendido duramente por Pedro (Atos 8:18-23). Escritos do período dos pais da Igreja relatam que Simão se tornou um gnóstico, e, inclusive, tentou se identificar como sendo o próprio Deus.

9. Simão de Jope: um homem em cuja casa o apóstolo Pedro estava hospedado quando foi convocado a ir ter com o centurião Cornélio de Cesaréia para lhe falar acerca das boas-novas da salvação em Cristo. (Atos 9:43; 10:6,17,32).

Se Judas Iscariotes era, de fato, natural da Judéia dentre os discípulos, ele era o único procedente da Judéia. Todos os outros eram procedentes da Galiléia. Os habitantes da Judéia desprezavam o povo da Galiléia como rudes colonizadores de fronteira. Essa atitude pode ter alienado Judas Iscariotes dos demais discípulos. Judas Iscariotes, portanto, era o único discípulo de Jesus que não era da Galiléia. Sua procedência era da Judéia.

Os Evangelhos não nos dizem exatamente quando Jesus chamou Judas pra juntar-se ao grupo de seus seguidores. Talvez tenha sido nos primeiros dias, quando Jesus chamou tantos outros, (Mt 4.18-22). Judas funcionava como tesoureiro dos discípulos, e pelo menos em uma ocasião ele manifestou com uma atitude sovina para com o trabalho. Foi quando uma mulher por nome Maria derramou unguento precioso sobre os pés de Jesus. Judas reclamou: "Por que não se vendeu este perfume por trezentos denários, e não se deu aos pobres?" (Jo 12.5). No versículo seguinte João comenta que Judas disse isto "não porque tivesse cuidado dos pobres; mas porque era ladrão”.

Enquanto os discípulos participavam de sua última refeição com Jesus, o Senhor revelou saber que estava prestes a ser traído e indicou Judas como o criminoso, como o traidor. Disse ele a Judas: "O que pretendes fazer, faze-o depressa", (Jo 13.27). Todavia, os demais discípulos não suspeitavam do que Judas estava prestes a fazer. João relata que "como Judas era quem trazia a bolsa, pensaram alguns que Jesus lhe dissera: Compra o que precisamos para a festa da Páscoa...", (Jo13.28-29).

Judas Iscariotes traiu o Senhor Jesus, influenciado ou inspirado pelo maligno, ( Lc 22.3; Jo 13.27). Depois de vender Jesus e depois tocado pelo remorso, Judas procurou devolver o dinheiro aos captores de Jesus e enforcou-se. (Mt 27.5).

Judas Iscariotes traiu Jesus.

O apóstolo Mateus, escritor do primeiro Evangelho, foi quem mais forneceu detalhes acerca do acordo entre Judas Iscariotes e os principais sacerdotes a fim de trair Jesus, (Mateus 26:14-16).

Judas Iscariotes recebeu como pagamento para trair seu Mestre a soma de trinta moedas de prata. É interessante saber que esse valor recebido por Judas com as tinta moedas de prata talvez tenha sido dez vezes menor do que o valor de avaliação que ele próprio fez do unguento que Maria de Betânia utilizou para ungir Jesus.

A narrativa bíblica também nos informa que Judas Iscariotes esperou o momento mais oportuno para poder trair o Senhor Jesus, (Lucas 22:6). Isto acabou acontecendo na noite em que Jesus celebrou a Páscoa com seus discípulos no cenáculo, quando também instituiu o sacramento da Santa Ceia do Senhor. Aqui nos recordamos das conhecidas palavras do apóstolo Paulo: “Na noite em que ( Jesus) foi traído”. (1 Coríntios 11:23).

Judas estava na mesa juntamente com Jesus e os outros discípulos. Depois de Jesus ter dado a ele o bocado molhado, a Bíblia diz que “entrou nele Satanás”, e Jesus lhe disse: “O que fazes, faze-o depressa”. (João 13:27).

Saindo dali, Judas Iscariotes pôs em prática o plano da traição. Já no jardim do Getsêmani, enquanto o Senhor Jesus orava, Judas Iscariotes consumou seu ato beijando Jesus, e assim os soldados o prenderam, (Marcos 14:43-46). Profecias do Antigo Testamento apontavam justamente para esse momento, (Salmos 41:9; 55:12-14; Zacarias 11:12).

A morte de Judas Iscariotes.

A morte de Judas Iscariotes é registrada apenas em Mateus 27:3-5 e Atos 1:18. Antes de morrer, Judas ainda esboçou um tipo de arrependimento e remorso patético,  mas nada adiantou, ele tinha cometido o pior dos pecados e estava prestes e determinado a cometer o último e mais trágico pecado de toda a sua história que era o de tirar a sua própria vida. Ele procurou os principais dos sacerdotes e os anciãos a fim de devolver as trinta moedas de prata, mas os sacerdotes e anciãos do templo não receberam o dinheiro de volta e Judas Iscariotes jogou as 30 moedas de prata no chão do templo, próximo dos que lhe haviam contratado para entregar Jesus.

Judas Iscariotes escutou dos sacerdotes que ele era o responsável pelo que havia feito. Diante disto, ele acabou atirando as moedas no Templo antes de retirar-se para ir se enforcar, (Mateus 27:4,5). Os sacerdotes não colocaram as moedas no cofre das ofertas, visto que eram pelo preço de sangue. Porém, eles acabaram comprando o campo de um oleiro, para servir de sepultura dos estrangeiros. Esse campo foi chamado “Campo de Sangue”, assim como havia sido profetizado pelo profeta Jeremias. Na verdade, indiretamente, foi o próprio Judas quem comprou aquele campo ao devolver as moedas aos sacerdotes e anciãos.

Mateus apenas relata que Judas saiu para se enforcar. Já o evangelista Lucas, no livro de Atos, fornece alguns detalhes sobre esse momento de acordo com a descrição dada pelo apóstolo Pedro. Ele diz que Judas Iscariotes, “precipitando-se, rebentou-se pelo meio, e todas suas entranhas se derramaram”, (Atos 1:18). Matias foi escolhido para ocupar o lugar deixado por Judas Iscariotes.

Pior do que a sua trágica e assombrosa morte, é a sentença que lemos sobre o seu fim: “Judas se desviou, para ir para o seu próprio lugar”, (Atos 1:25). Esse “lugar” é claramente indicado nas palavras de Jesus orando ao Pai: “Tenho guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles pereceu, exceto o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura”. (João 17:12).

O caráter de Judas Iscariotes ou a falta de caráter dele.

Considerando todas as referências bíblicas em que Judas Iscariotes é mencionado, podemos perceber que ele reunia em si a hipocrisia, o egoísmo, a soberba, a avareza, a inveja e a cobiça. Seu caráter duvidoso pode ser muito bem resumido na designação clara e objetiva dada a ele pelo apóstolo João: “Ora, ele disse isto, não pelo cuidado que tivesse dos pobres, mas porque era ladrão e tinha a bolsa, e tirava o que ali se lançava”, (João 12:6). Alguém pode perguntar o porquê de Jesus ter escolhido Judas Iscariotes para ser um de seus apóstolos, mas vendo as referências bíblicas e o contexto vemos que a oportunidade foi dada a todos para serem verdadeiramente seus apóstolos, a decisão de trair Jesus foi pessoal de Judas Iscariotes.

João o identificou, em poucas palavras, como sendo uma pessoa mentirosa, enganadora, gananciosa e capaz de roubar. Além disso, Judas Iscariotes era uma pessoa dissimulada. Diante do anúncio de Jesus de que havia entre eles um traidor, Judas Iscariotes foi tão frio a ponto de dizer: “Porventura sou eu, Rabi?” (Mateus 26:25).

A história de Judas Iscariotes é um retrato vívido de como o homem, em sua própria natureza, é completamente depravado e perverso, apto a ser instrumento nas mãos do diabo, (João 6:70,71). É impossível separar a pergunta sobre quem foi Judas Iscariotes das conhecidas palavras de Jesus sobre ele: “Mas ai daquele por intermédio de quem o Filho do Homem está sendo traído”. (Mateus 26:24).

Quem substituiu Judas Iscariotes como apóstolo?

Depois da ressurreição e ascensão de Jesus, os apóstolos se reuniram para escolher outra pessoa para tomar o lugar de Judas Iscariotes. Eles decidiram que deveria ser alguém que tinha acompanhado todo o ministério de Jesus e que tinha sido testemunha de sua ressurreição, (Atos dos Apóstolos 1:21-22). Usando esses critérios, os apóstolos escolheram duas pessoas: José Barsabás e Matias. Eles oraram e lançaram sortes e Matias foi o escolhido, (Atos dos Apóstolos 1:23-26).

Mais tarde, Paulo se tornou um apóstolo, pregando o evangelho em muitos lugares e ajudando a estabelecer a doutrina da Igreja. Mas ele não foi um dos 12 apóstolos originais, que aprenderam diretamente com Jesus. Paulo foi considerado o Apóstolo dos gentios.

A escolha de Matias como Apóstolo.

O Apóstolo Pedro, diante de um grupo de quase cento e vinte pessoas, fez uma exposição acerca do que havia acontecido com Judas Iscariotes, como cumprimento da Escritura que o Espírito Santo predisse pela boca de Davi, (At 1:16). Pedro também mostrou a necessidade de que fosse escolhido alguém para compor, juntamente com os onze restantes, o grupo de doze testemunhas da ressurreição de Cristo, (At 1:22).

Para ser escolhido, o candidato deveria cumprir a principal exigência de ter acompanhado os discípulos durante todo o ministério de Jesus, ou seja, desde o batismo realizado por João Batista, até sua ascensão ao céu. Logo, o novo Apóstolo obrigatoriamente deveria ser capaz de testemunhar a ressurreição de Jesus, ou seja, ter visto o Cristo ressurreto.

O antigo historiador Eusébio, defendeu também que Matias provavelmente tenha sido um dos setenta discípulos escolhidos por Jesus para a missão descrita no Evangelho de Lucas capítulo 10. Muitos estudiosos também defendem essa opinião, porém, fora o relato no livro de Atos, Matias não é mencionado em nenhuma outra passagem do Novo Testamento. O que podemos afirmar com certeza é que ele, de fato, acompanhou o ministério de Jesus.

No momento da escolha foi pré-selecionado dois homens: José, chamado Barsabás, que tinha por sobrenome o Justo, e Matias (At 1:23). Então oraram ao Senhor, e pediram que Deus mostrasse qual dos dois seria o escolhido. Após a oração, lançando-lhes sortes, o escolhido foi Matias, que, por voto comum, compôs o grupo dos doze.

A polêmica em relação à escolha de Matias.

Alguns estudiosos questionam a escolha de Matias, inferindo até que o apóstolo Pedro tenha agido precipitadamente ao tomar a iniciativa de substituir Judas. Para esses estudiosos, Pedro, e os demais discípulos, deveriam ter esperado por Paulo, que, segundo eles, foi a verdadeira escolha do Senhor Jesus que lhe apareceu.

Particularmente, penso que esse questionamento é infundado e não deve ser considerado. O texto de Atos claramente nos mostra que os discípulos oraram ao Senhor, e entenderam que Deus iria dirigir aquela escolha. O fato de terem lançado sortes, não causa problema algum ao texto, já que esse era um método aprovado e comum no Antigo Testamento, (Lv 16:8; Pv 16:33), e não existe nenhuma reprovação a essa atitude em todo Novo Testamento.

Geralmente as criticas em relação à escolha de Matias, se apoiam no fato de não existir qualquer referência bíblica ao ministério dele após essa escolha. Porém, se essa lógica for utilizada, outros discípulos dentre os doze também deveriam ter seus ministérios questionados.

Após a ressurreição, sabemos tanto de Matias quanto sabemos de Bartolomeu, por exemplo, e ninguém sugere que Bartolomeu não seja considerado como um dos doze.

Quais foram os critérios para a escolha de Matias no lugar de Judas Iscariotes?

Havia um conjunto particular de critérios que qualificava Matias para ser o próximo apóstolo.

Nos Atos dos Apóstolos, Pedro discute quem deveria substituir Judas. Ele então começa a repassar um conjunto de critérios e a orar a Deus por orientação. Tudo apontava para Matias.

Havia requisitos muito específicos para a substituição de Judas Iscariotes.

Havia um conjunto particular de critérios que qualificava Matias para ser o próximo apóstolo.

O primeiro requisito era: Tinha que ser alguém que “Viveu entre nós”.

Então Pedro continua, devemos escolher entre aqueles homens que viveram entre nós. Observe como ele insiste que ele deveria ser testemunha ocular, assim como eles. Mesmo que o Espírito Santo viesse para ratificar a escolha, Pedro considera essa qualificação anterior como a mais importante, já que o próprio Espírito Santo lhes agraciou com este entendimento, ou seja, seria um “daqueles que conviveram conosco” e continua ele, tinha que ser alguém que conviveu com eles durante todo o tempo em que o Senhor Jesus veio e passou entre eles.

Ele se refere àqueles que conviveram com Jesus, não apenas aqueles que foram seus discípulos. É claro que, desde o início, muitos o seguiram.

Era importante para Pedro que o substituto fosse alguém que estava lá com eles e que, assim, tivesse convivido de perto com Jesus e aprendido diretamente com Ele.

O segundo requisito era que: Tinha que ser alguém que foi “Testemunha da ressurreição de Jesus”.

E tinha que ter convivido com ele até o dia, acrescenta Pedro, “em que Jesus foi arrebatado de nós”, tendo assim sido testemunha ocular conosco de sua ressurreição.

Ele não disse “uma testemunha do restante de suas ações”, mas “testemunha da ressurreição”. Seria mais confiável aquela pessoa que pudesse testemunhar de fato que Jesus foi crucificado e ressuscitou dos mortos. Precisava ser uma testemunha não dos tempos anteriores ou posteriores daquele evento, e não apenas dos sinais e milagres, mas da própria ressurreição. Pois o restante aconteceu por testemunho geral, abertamente; mas a ressurreição ocorreu secretamente e era conhecida apenas por esses homens.

Ser uma testemunha da ressurreição de Jesus era uma qualificação importante e do mesmo peso do primeiro requisito, especialmente para uma jovem Igreja que precisava convencer os outros de que Jesus ressuscitou dos mortos.

Eles precisavam de líderes fortes, aqueles que tivessem uma fé firme em Jesus e pudessem atestar pessoalmente sua ressurreição por experiência própria.

O terceiro requisito era que tinha que ser aprovado e confirmado por Deus e seria considerado por todos como providência de Deus. No final, eles deixaram a escolha de Matias para a providência de Deus, não contando com seu próprio poder, e assim ele foi escolhido por Deus para substituir Judas Iscariotes.

O apóstolo Paulo, apóstolo dos gentios veio a aparecer na história dos apóstolos mais tarde, também pela providência de Deus.

Por fim, o próprio apóstolo Paulo falando de sua situação, se coloca como um apóstolo fora do tempo, ou seja, ele também viu o Cristo ressurreto, seu apostolado foi legítimo e confirmado, porém essa revelação e, consequentemente seu chamado, ocorreram posteriormente, num momento preparado por Deus.

Disse o Apóstolo Paulo: “E por derradeiro de todos (Jesus) me apareceu também a mim, como a um abortivo”. (1 Coríntios 15:8).

Em nenhuma de suas Epístolas, o Apóstolo Paulo reivindica sobre si uma posição entre os doze, ao contrário, ele claramente considera Matias no grupo dos doze que viram Jesus após a ressurreição, (1 Co 15:5).

Quanto a Matias, duas tradições se propõem a dar uma explicação sobre seu paradeiro após ter sido escolhido um dos doze. Uma delas sugere que Matias pregou na Judéia, e acabou sendo apedrejado pelos judeus. A outra defende que Matias foi um grande evangelizador na Etiópia.

Deus abençoe você e sua família.

 

Pr. Waldir Pedro de Souza.

Bacharel em Teologia, Pastor e Escritor.

 

 

 

 

segunda-feira, 29 de abril de 2024

O BOM COMBATE DA FÉ

O BOM COMBATE DA FÉ

 

Disse o Apóstolo Paulo: “Combati o bom combate, acabei minha carreira e guardei a fé”. 2 Timóteo 4:7.

Ainda deixou escrito para Timóteo, "Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo da minha partida está próximo. Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda". (2 Timóteo 4:6-8).

O que é “se oferecer por libação”? O que significa a palavra libação? É uma figura tirada da terminologia do sacrifício cerimonial. Aqui sugere que seja o martírio de Paulo.

O que significa nesta passagem bíblica escrita pelo Apóstolo Paulo, a palavra “Partida”: vem do gr. 'analusis' lit. (O soltar das cordas; para a saída do navio); 'dissolução'; refere-se a morte do apóstolo Paulo.

O apóstolo Paulo sempre foi muito disciplinado. A disciplina do servo fiel inclui:

a) A coragem do bom soldado para enfrentar situações difíceis.

b) A perseverança do atleta forte numa corrida com muitos desafios desconhecidos.

c) A hospitalidade do fiel mordomo, do dono generoso da casa, contribui para o aperfeiçoamento do servo fiel a Deus na jornada de fé na obra de Deus.

O ser oferecido por libação literalmente significa ser derramado como uma oferta de vinho, (Lv 23.10-14). Para o apóstolo Paulo, a morte correspondia ao derramamento de sua vida como oferta ao Senhor.

Para o Apóstolo Paulo a sua partida, a sua libação e a sua morte eram de seu conhecimento. Paulo sabia que, dessa vez, não seria solto e que sua prisão já estava definida como sua execução também em breves dias.

Então ele disse: guardei a fé; guardei o que é o essencial no conjunto reconhecido de doutrinas cristãs de Judas, versículo 3.

O apóstolo Paulo guardou a fé em dois sentidos, em dois aspectos diferentes: ele foi obediente a ela a tal ponto de se oferecer ou de se sacrificar por ela. Ele foi fiel em ensinar o Caminho da fé para os seus filhos na fé a transmitiu da mesma maneira como havia recebido do Senhor Jesus.

Paulo foi obediente à fé em Jesus e a transmitiu da mesma maneira como havia recebido do Senhor.   

Ele disse: “Já agora”, quer dizer daqui por diante, e afirmou que sua coroa da justiça, já lhe estava reservada mesmo que ele fosse executado naquela hora.

A coroa da justiça era e é  uma das recompensas (galardões) oferecidas aos cristãos que permanecerem fiéis até o fim, neste caso por amarem a vinda de Cristo, (1Co 3.14).

E assegura que "Se a obra que alguém edificou nessa parte (ou na vida de conversão a Cristo), permanecer, esse receberá galardão". (1 Coríntios 3:14).

À medida que se aproximava o fim de sua vida, Paulo podia olhar para trás sem arrependimento ou remorsos e nestes versículos abaixo, Ele examina sua vida por três aspectos:

a) A realidade presente do fim da sua vida, para o qual Ele estava preparado, (1 Co3:6), o passado, quando ele havia sido fiel, (1Co: 7), e o futuro, uma vez que Ele esperava sua recompensa celestial. (1 Co 3:8).

b) A afirmação “Já” tinha o significa que sua morte era iminente e se aproximava.

A libação era chegada, e Paulo já sentia isso, ele estava ali no abatedouro, como uma ovelha muda sem abrir a sua boca. No sistema de Sacrifícios do AT, essa era a oferta final que se seguia ao holocausto e a oferta de grãos prescritos para o povo de Israel, (Nm 15.1-16). Paulo via sua iminente morte como sua oferta final a Deus depois de uma vida que já havia sido repleta de sacrifícios a Ele, (Fp 2.17).

E Paulo mesmo confirma: "E, ainda que seja oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço da vossa fé, folgo e me regozijo com todos vós". (Filipenses 2:17).

c) Sentindo o momento chegar ele afirmou dizendo: a Minha partida é chegada.

Sobre a morte de Paulo podemos que a palavra grega refere-se, em essência, a soltar algo, como as cordas de ancoragem de uma embarcação ou as cordas de uma tenda. Portanto, a expressão acabou adquirindo o significado secundário de partida.

"A forma dos 3 (três) verbos gregos, combati, completei, guardei, indicam uma ação completa que tem resultados contínuos. Paulo via sua vida como tendo sido completada. Ele havia conseguido realizar,  por meio do poder do Senhor Jesus, tudo o que Deus o havia chamado para fazer.

Foi um soldado guerreiro, brilhante em toda a sua carreira de fé. (2 Tm 2.3-4; 2 Co 10.3; 1 Tm 6.12; Fm 2), correu como um atleta (1 Co 9.24-27; Ef 6.12). Defendeu a obra de Deus e seu ministério como um guardião, (2 Tm 1.13-14; 1 Tm 6.20-21). A sua fé, as verdades e os parâmetros da palavra de Deus ministradas por ele, eram reveladas por Deus e causavam um grande impacto nos seus ouvintes. Vejam como Deus usou Paulo no Areópago, Atos 17, na Grécia.

A coroa da justiça lhe estava guardada. O significado literal da palavra grega traduzida para 'coroa' é 'que envolve', e o termo era usado como referência às grinaldas ou guirlandas trançadas que eram colocadas na cabeça de dignitários e militares ou atletas vitoriosos.

O termo “da justiça” linguisticamente pode significar que a justiça é a fonte da coroa ou que a natureza da coroa é a justiça. Como nas expressões “coroa  da vida", (Tg 1.12), a “coroa em  que exultamos" (1 Ts 2.19), a “coroa incorruptível”, (1Co 9.25) e a “coroa de glória”, (1 Pe 5.4), nas quais vida, exultação, incorruptibilidade e glória descrevem a natureza da coroa, o contexto aqui parece indicar que as coroas representam a justiça eterna de Deus. Os cristãos recebem a justiça imputada de Cristo (justificação) na salvação (Rm 4.6,11). O Espírito Santo opera no Cristão a justiça prática (santificação) ao longo de sua vida de luta contra o pecado, (Rm 6.13,19; 8.4; Ef 5.9; 1 Pe 2.24). Mas somente quando a luta chegar ao fim é que o cristão receberá a justiça de Cristo aperfeiçoada nEle, que é a glorificação do salvo ao adentrar no céu  nas moradas eternas".

"Porque nós pelo Espírito Santo e pela fé aguardamos a esperança da justiça". (Gálatas 5:5).

A coroa da justiça tem um tom triunfante. O apóstolo Paulo não tem dúvida alguma quanto a esta coroa. Ele provavelmente está pensando na coroa de vitória obtida por aqueles que competiam nas corridas de atletismo. A descrição dela como de justiça, no entanto, mostra a natureza espiritual do prêmio com que ele será honrado. A justiça não é obtida pelo próprio apóstolo Paulo, mas é algo que lhe é dado, visto que Deus é um justo Juiz, Ele não pode conferir ou dar nada que não seja justo.

O Dia aqui é o dia final da vinda de Cristo, que aponta para o que Paulo chama em outros trechos de tribunal de Cristo. Ele enxerga esse dia futuro como aplicável à todos os Cristãos que foram e que serão salvos, que ele supõe que desejarão estar neste evento glorioso.

O pregador fiel deve cuidar de sua vida espiritual e desequilibrado. O apóstolo Paulo deixou vários conselhos como:

a) seja equilibrado; fique sempre alerta.

b) sofre às aflições do seu chamado ao ministério. (2Tm 2.3)

c) faze a obra de um evangelista, seja um anunciador das boas novas de grande alegria, seja anunciador de que Jesus morreu para salvar os pecadores.

e) cumpre e execute seu ministério com amor e gratidão a Deus. Sirva a Deus plenamente cumprindo integralmente seu serviço com máxima eficiência.

"Tu pois, sofre as aflições, como bom soldado de Cristo". (2 Timóteo 2:3).

Este é o triunfo daquele que pregou a Palavra de Deus em tempo e fora do tempo. Paulo afirma que está “sendo derramado como oferta de libação”, pronto para derramar sua vida como libação ou oferenda líquida, tendo já gasto a vida em sacrifício para propagar o Evangelho de Jesus, (Fp 2.17). O tempo da sua partida pela morte estava próximo. Ele combatera o bom combate, viveu a agonia da luta terrena e do labor da luta espiritual, Ef 6.10-20), e agora concluirá seu caminho, sua carreira de dedicação exclusiva à pregação e ensino da palavra de Deus. Aqui o termo carreira é “dromos” e refere-se à uma corrida nos jogos públicos e é usada figuradamente para simbolizar a carreira ou ministério apostólico. O apóstolo Paulo havia guardado a fé, (Jd 3), protegendo-a dos erros da apostasia.

Quanto às recompensas. Aqui a fé se verbaliza em radiante esperança. A “coroa da justiça” é uma recompensa pela fidelidade e é reservada àqueles que amam sobremaneira a vinda de Jesus Cristo. A coroa é gr. “Stephanos”, ou coroa da vitória, a guirlanda de oliveira brava ou pinheiro dada ao vencedor dos jogos gregos.

Paulo afirma com segurança: :Combati o bom combate”. “Combati o bom combate, acabei a carreira e guardei a fé” foram as palavras do apóstolo Paulo a Timóteo enquanto estava preso em Roma próximo ao seu martírio iminente. Este versículo está registrado em 2 Timóteo 4:7, e certamente transmite um ensino valiosíssimo para todo cristão verdadeiro. A seguir, vamos entender o que significa a frase “combati o bom combate” segundo o apóstolo Paulo.

O contexto de “combati o bom combate”: Esta frase está dentro de um contexto onde o apóstolo simplesmente exorta Timóteo, seu filho na fé e companheiro de ministério, a permanecer firme, sempre com fidelidade e zelo na pregação do Evangelho, (2 Timóteo 4:1-5). O apóstolo Paulo também diz que ele próprio já estava de partida desde mundo, (2 Timóteo 4:6-8).

Quando estudamos os três versículos que compõe todo esse pensamento do apóstolo Paulo, percebemos algo interessante neles. É possível perceber que o apóstolo analisa sua fé em três perspectivas diferentes: passado, presente e futuro.

No tempo presente, ele disse: “o tempo da minha partida é chegado”.

No versículo 6 ele utiliza uma metáfora baseada na linguagem sacrifical do Antigo Testamento. Ele faz referência à ocasião onde o vinho era derramado junto ao altar como uma oferta de gratidão a Deus, isto é, a libação, (Números 15:5-10). Com isso, ele estava olhando para sua situação presente, e admitindo que sua vida estava chegando ao fim. Seu tempo de partida havia chegado, porém ele via o seu martírio como uma oferta de gratidão a Cristo.

Obviamente esse era o comportamento esperado de quem durante toda a carreira na fé entendeu que o verdadeiro seguidor de Cristo apresenta seu próprio corpo como “sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”, como culto racional. (Romanos 12:1).

Na frase “o tempo da minha partida é chegado”, o apóstolo Paulo usa no original o termo grego “analusis”, que significa “desprendimento”, “libertação” ou “soltura”. Esse termo era uma metáfora utilizada para se referir ao desamarrar das amarras que prendem uma embarcação antes da navegação. Por este motivo esse termo foi traduzido para o português como “partida”. Paulo via a sua morte como sua libertação plena, a fim de poder navegar diretamente para os braços de Cristo, (Filipenses 1:21-23).

Quando refere-se ao passado, ele diz com toda segurança e com toda confiança na determinação do Senhor Jesus quando da sua conversão: “Combati o bom combate”.

Após fazer a analise da sua situação no presente, o apóstolo agora olha para o passado. É aí então que ele declara: “Combati o bom combate, acabei a carreira e guardei a fé”.

Não podemos desprezar o fato de ele ter dito “o bom combate”. No original, o apóstolo posicionou o objeto antes do verbo, ou seja, ele escreveu “o bom combate eu combati”. Dessa forma ele deu ainda mais ênfase ao termo que nos foi traduzido como bom. Esse termo é o grego “kalos”, que significa “excelente”, “gracioso”, “insuperável”, “bonito”, “precioso”, “recomendável”, “magnífico” e ou “admirável”.

Percebemos o quão importante o apóstolo considerava ser uma vida em prol do Evangelho de Cristo. Do ponto de vista humano, essa vida era repleta de privações, sofrimentos, dificuldades e dor. Mas do ponto de vista da fé, essa mesma vida era um combate nobre, notável, singular e inigualável, que faz valer a pena qualquer desafio e adversidade.

Essa mesma regra do objeto antes do verbo segue no restante da frase. Isto significa que ele escreveu: “a carreira completei” e “a fé guardei”. Com isto, que a princípio parece ser uma diferença insignificante, o apóstolo está simplesmente apontando para a verdade de que nele mesmo não há qualquer mérito. É como se aquele que se denominou como “o principal dos pecadores” estivesse dizendo: “Olhem, vejam o que a graça Salvadora de Jesus Cristo fez comigo”, o magnífico combate combati, a carreira completei e a fé guardei”.

Agora que entendemos o princípio da frase “combati o bom combate, acabei a carreira e guardei a fé”, vamos analisar o significado de cada parte dessa declaração.

A figura do bom combate da fé, significa que Paulo utiliza a figura de uma luta, uma batalha ou um tipo de competição. A forma com que ele constrói essa expressão, conforme vimos acima, transmite a idéia de que o bom combate realmente significa algo extremamente duro, algo que exige muito de alguém. Quando estudamos sobre a história de Paulo podemos facilmente perceber que tal expressão descreveu perfeitamente sua vida com Cristo.

O apóstolo combateu principados e potestades, combateu a Satanás, combateu às perseguições dos Judeus, dos gentios e dos pagãos, ou seja, o apóstolo Paulo vivia pela fé. Ele também se opôs às falsas doutrinas, falsos profetas, falsos apóstolos impostores. Ele denunciou a cultura depravada do pecado, da idolatria, as contendas e os vícios pecaminosos da carne entre os próprios cristãos. Além disso, ele enfrentou a hipocrisia, a rejeição de seus próprios filhos na fé e sua própria velha natureza dentro de si. Assim, o apóstolo olha para todas essas coisas e exclama triunfante: “Combati o bom combate”.

Ele, Paulo, assegura com toda segurança: “acabei a carreira”. O apóstolo agora utiliza o simbolismo de uma corrida de obstáculos. Ele aponta para o fato de que pela graça de Deus ele conseguiu completar o ministério para o qual foi chamado. Em nenhum momento de sua carreira ele desviou-se de seu serviço no Reino de Deus. Antes, ele não mediu esforços para que Deus fosse glorificado como Senhor do universo em toda a sua trajetória ministerial.

O grande objetivo da carreira de Paulo obviamente era a salvação de pecadores através do Evangelho de Cristo (1 Coríntios 9:22-24; 10:31-33). Ele mesmo nos ensina sobre a principal motivação da evangelização, que consiste em Deus ser glorificado entre os homens (Romanos 1:16, 3:20).

O apóstolo Paulo fala, escreve o motivo da sua luta e diz “guardei a fé”, ou seja, não desviei nem para a esquerda e nem para a direita, mas caminhei olhando firme para o autor da minha fé.

Esta expressão, “guardei a fé” conclui a declaração de Paulo ao analisar seu ministério que estava chegando ao fim.

Ao dizer “guardei a fé”, o apóstolo estava reafirmando sua confissão de fé. Ele estava dizendo que sua confiança no Deus que o escolheu, permaneceu inabalável.

Perceba que essa é uma conclusão muito apropriada para quem disse “combati o bom combate, acabei a carreira”. Essa conclusão explica o porquê desse resultado final, a saber, a fé em Jesus Cristo foi o que o manteve firme até o fim. Ele só combateu o bom combate e completou a carreira porque a fé genuína o sustentou.

Diante dessa declaração, nunca devemos pensar que ele estava reivindicando para si qualquer mérito próprio, como se ele mesmo, por seus próprios esforços, por seus próprios méritos, por seus estudos e conhecimentos ou por seu diploma de cidadão Romano, tivesse guardado a fé sem negá-la em nenhum momento. Ao contrário disto, o próprio apóstolo já havia ensinado anteriormente que Deus é quem mantém seu povo firme na fé até o fim. (1 Coríntios 1:8,9).

A certeza do Apóstolo Paulo era tanta que ele profetizava para si mesmo que “no futuro a coroa da justiça me está guardada”.

Após ter olhado para o presente e para o passado, o apóstolo foca o futuro e faz outra importante declaração. Ele disse: “Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não apenas a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda”, (2 Timóteo 4:8).

Esta frase do apóstolo reflete uma sublime esperança acerca não só de seu futuro, mas de todos que, como ele, seguem verdadeiramente a Cristo. Além disso, também expressa uma plena confiança na soberania de Deus na condução da História.

Perceba o que ele diz: “já agora a coroa da justiça me está guardada”. Ele utiliza um verbo composto grego que enfatiza que nada poderá lhe privar de receber essa coroa.

Esta declaração do Apóstolo Paulo está completamente fundamentada na certeza de que aqueles que combatem o bom combate, completam a carreira e guardam a fé, recebem de Deus a promessa da coroa da justiça plena, isto é, a vida eterna, (1 Timóteo 6:12; Tiago 1:12; 1 Pedro 5:4; Apocalipse 2:10).

Esta coroação representa a plenitude do processo de santificação do cristão. Ela é conferida pelo justo Juiz, não pelos méritos próprios de cada fiel, mas pelos méritos de Cristo e quem a mereceu Ele a reservou para cada um deles. (Tito 3:5,6).

O justo Juiz a qual Paulo se refere é o próprio Cristo, que no grande Dia, isto é, o dia do julgamento, entregará a coroa da justiça a todos os que amam a sua vinda. Diante do retorno glorioso de Cristo, os ímpios temem, enquanto os santos amam; os perversos se escondem, enquanto os justos exclamam: Maranata, ora vem Senhor Jesus!

O conforto em combater o bom combate, acabar a carreira e guardar a fé.

Paulo estava prestes a ser condenado injustamente, e estava certo de que receberia a pena capital. Mas ele não estava preocupado com o juízo de Nero. Na verdade ele estava confortado na certeza de que há um justo Juiz, que é Soberano sobre tudo e todos. Diante desse Supremo Juiz, todos os juízes da terra terão de se dobrar! No dia que já está determinado, esse Juiz presidirá o julgamento do qual ninguém poderá escapar.

Combati o bom combate, completei a carreira e guardei a fé! Esta deve ser a declaração presente nos lábios de todo cristão genuíno que almeja a qualquer momento encontrar-se com o Senhor Jesus. 

O apóstolo Paulo estava fechando a cortina da vida e a cena que estava diante dos seus olhos não era nada bela. Ele estava preso numa masmorra em Roma, uma prisão úmida, escura e insalubre.

“Desde o primeiro momento de sua conversão enfrentou duras provas: foi perseguido em Damasco, rejeitado em Jerusalém, esquecido em Tarso, apedrejado em Listra, açoitado em Filipos, escorraçado de Tessalônica e Beréia, chamado de tagarela em Atenas, de impostor em Corinto, e enfrentou feras em Éfeso. Foi preso em Jerusalém, acusado em Cesaréia, sofreu um naufrágio indo para Roma e foi mordido por uma víbora na Ilha de Malta. Na sua primeira prisão em Roma, ao ir a julgamento ninguém foi a seu favor. Foi abandonado por Demas, perseguido por Alexandre, e sentenciado a morte por Nero”.

O maior de todos os apóstolos encerra sua carreira como um homem pobre, trazendo no corpo as marcas de Cristo, caminhando sozinho de um calabouço para a guilhotina. Na perspectiva humana isso é uma fragorosa derrota. Aquele que foi o maior bandeirante do cristianismo não granjeou riquezas, não buscou popularidade, não lutou para estar no topo da lista dos famosos do seu tempo.

Mas, este homem foi temido no inferno e amado nos céus.

Ele tombou na terra como um mártir e levantou-se no céu como um príncipe. Seu  nome é mais conhecido hoje do que todos os imperadores romanos somados. Ele, mesmo morto ainda fala e, inspira milhões de pessoas, todos os dias a viver para a glória de Deus.

Esse grande gigante do cristianismo escreve sua última carta de uma masmorra e mesmo sofrendo solidão, abandono, perseguição, ingratidão e privações se ergue e sua escrita veio a interferir na história como uma voz para glorificar a Deus. Em vez de lamentar suas desventuras, ele praticou o que ensinou e morreu pelos mesmos ideais pelos quais viveu. Ele é um monumento vivo da graça de Deus a revelar-nos que a vida de um homem não consiste na abundância de bens que ele possui. Mesmo pobre ele enriqueceu a muitos. Mesmo nada possuindo ele foi possuidor da maior de todas as riquezas, trabalhou incessantemente pela sua própria salvação como a salvação dos que o ouviram.

Paulo não termina sua carreira como um fracassado. Ao contrário, ele olha para o passado e diz: “Eu combati o bom combate, completei a carreira e guardei a fé”.

Paulo não desperdiçou sua vida vivendo de forma banal. Ele não investiu seu tempo correndo atrás do vento. Ele lutou por cousas permanentes e verdadeiras. Ele olhou para o seu presente e disse: “O tempo da minha partida é chegada, já estou sendo oferecido por libação, por oferta agradável a Deus”. Ele vê a morte como uma viagem rumo ao céu. Para ele a morte era aliviar o fardo e descansar das fadigas. Para ele a morte era tirar as amarras e ficar livre. Para ele a morte era levantar acampamento e mudar de  endereço, pois era deixar esse mundo de dores para desfrutar das bem-aventuranças da Casa do Pai. Para ele morrer era desatar o bote da vida e singrar as águas profundas até chegar no outro lado, nas praias áureas da eternidade. Paulo olhou para o futuro e viu com alegria que sua recompensa estava nas mãos do Senhor Jesus, o rei vitorioso que voltará em breve. Para Paulo “o viver é ganho e o morrer é lucro.

Paulo viveu uma vida superlativa, maiúscula e abundante. Sua vida teve significado no tempo e resultados benditos na eternidade. Que Deus nos ajude a viver de tal maneira que outras pessoas nesta geração e nas vindouras possam também dizer: valeu a pena, foi bom demais viver em Cristo e para Cristo Jesus meu Senhor e Salvador.

O apóstolo Paulo disse em 2 Timóteo 4.6 que a sua morte era uma morte como oferta de sacrifício.

O Espírito Santo que guiava o apóstolo Paulo em tudo o fez sentir que “o tempo da sua partida estava próximo”. Nesse sentido, o apóstolo via o seu martírio iminente como uma oferta voluntária apresentada sobre o altar do sacrifício. Essa consciência clara de que haveria de padecer pelo nome de Jesus, não o permitia ter medo, ou frustração diante da morte. É preciso ter a consciência de que se não encontrarmos o Senhor por meio do Arrebatamento da Igreja, o encontraremos por meio da morte. Por intermédio do Espírito Santo, nos prepararemos para esse tempo em esperança, (1Ts 5.13-18), todos os heróis da fé de Hebreus capítulo 11 vivenciaram isso e deixaram o exemplo para os verdadeiros Cristãos.

Os originais do grego nos ensinam sobre o significado maior destes termos:   “…Combati o bom combate…”. No grego temos o termo “agonidzomai”, em forma verbal; e o substantivo é “agon”, que se deriva da mesma raiz. Originalmente, o termo “agon” indicava uma “assembleia” de qualquer natureza; em seguida veio a indicar a multidão que se reunia para ver as competições atléticas; e, finalmente, passou a indicar a própria competição em que homens se esforçavam por alcançar o prêmio ou coroa daquelas competições. Por extensão, veio a significar qualquer forma de luta ou batalha. A forma verbal, aqui empregada, é o termo de onde nos vem a palavra moderna “agonizar”. No original grego significava “entrar em combate”, “lutar”, “contender”.

Todas estas expressões, usadas no presente versículo de 1 Timóteo 4.6, envolvem metáforas  baseadas no atletismo.

a) A primeira destas expressões provavelmente se alicerça sobre a luta corpo a corpo, ou sobre alguma outra forma de luta na arena;

b) a segunda, alude às corridas dos fundistas ou desportistas de grandes distâncias como maratonistas, onde os corredores tinham que percorrer longas distâncias, eivadas, cheias de obstáculos;

c) e a terceira destas metáforas é uma alusão à “promessa” feita pelos atletas de que competiriam de conformidade com as regras impostas aos competidores.  (2Tm 2:5 e 1Tm 5:12).

d) Quanto a outras metáforas usadas pelo apóstolo Paulo com base na vida atlética, ver os trechos de c (1 Co 9:24,25; Fp 2:16 e 3:13,14).

Na passagem bíblica de 1 Timóteo 6:12 encontramos as seguintes palavras Paulo, de que ele: "Esforçadamente luta a boa luta de a Fé e já, a partir de agora, deseja que seus filhos na fé também tomem posse da vida eterna, e incita a Timóteo a entrar no propósito para dentro do qual também foste chamado e confessaste a boa confissão diante de muitas testemunhas". (1Tm  6.12).

A analogia como luta de arena, não com batalha militar, é demonstrada em Lc 18:8 e Jd 3), e demonstra também o caráter cristão do bom combate e é demonstrado aqui que é o verdadeiro combate o bom combate, “o bom combate da fé”, onde o mesmo vocábulo grego é empregado. A verdadeira vida cristã é pintada aqui como uma luta, como uma competição atlética, como uma experiência árdua e testadora, embora o seu propósito seja elevado, pois há uma coroa a ser obtida. Mas essa coroa só pode ser conquistada por aqueles que lutarem de conformidade com as regras, e assim se saírem vencedores. Ora, isso exige a aceitação do verdadeiro Cristo conforme é este exposto nos evangelhos e nas doutrinas de Paulo; e, por outro lado, exige a negação de si mesmo e a oposição contra os ensinamentos contrários. Também envolve o cumprimento fiel dos deveres cristãos e do ministério da Palavra em que o crente observa todas as exigências próprias da vida cristã.

É preciso, pois, seguir a santidade, propagar o evangelho e ensinar devidamente, coerentemente a Palavra de Deus, àqueles que já confiaram em Cristo, que já aceitaram a Jesus como seu Único e suficiente Salvador. Notemos aqui o uso do artigo definido, no original grego, “Combati ‘o’ bom combate…” ou seja, “o combate Cristão”, aquele combate no qual Paulo fora posto pelo próprio Senhor. E trata-se de um “…bom …” combate, visto que tem por escopo bons e nobres propósitos, em defesa e propagação do bem eterno entre os homens, em prol do qual se esforçam todos os legítimos ministros do evangelho para a salvação de todo aquele que nEle, Jesus, crer.

Paulo também disse: "A boa luta  tenho esforçadamente lutado. A minha carreira tenho completado. A genuína fé tenho preservado e obedecido".  (2Tm 4.7).

Devemos olhar para o passado, como Paulo, com um senso de dever cumprido, (2Tm 4.7). “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé”.

Muitos se cansam da obra e na obra e não concluem a carreira. Outros carregam peso desnecessário e, por isso, não conseguem chegar ao fim da jornada. Há aqueles que são desqualificados por não correrem de acordo com as normas. Ainda há aqueles que tropeçam e caem já no final da carreira e colocam tudo a perder. Paulo, testemunha, ainda, que jamais vendeu sua consciência pelo lucro.

Paulo jamais prostituiu o seu ministério para alcançar favores transitórios. Ele guardou a fé e permaneceu fiel até o fim.

Como você tem corrido a carreira cristã? Tem combatido o bom combate? Tem corrido de acordo com as normas? Permanece firme na fé?

Também devemos olhar para o presente com um senso da entrega plena da nossa vida a Jesus, (2Tm 4.6). Como Paulo disse: “Já estou sendo oferecido por libação e o tempo da minha partida é chegado”. Paulo está na antessala do martírio, com os pés na sepultura e com a cabeça debaixo da espada de Roma. Tinha plena consciência que a hora de sua morte havia chegado. Entretanto, está convicto de que não é Roma que vai lhe matar; é ele quem vai se entregar e entregar-se não para Roma, mas para Deus.

Seu martírio não era uma oferta para César, mas para Deus. Usando um eufemismo, Paulo diz que não vai morrer, vai partir. Essa palavra tem um tríplice significado:

a) Primeiro, significa tirar o fardo das costas de alguém. Morrer para um crente é descansar de suas fadigas, (Ap 14.13).

b) Segundo, significa desamarrar um bote e atravessar o rio para a outra margem. Morrer para um crente é atravessar o rio da vida e chegar do outro lado, no porto seguro da bem-aventurada esperança da glória.

c) Terceiro, significa afrouxar as estacas da barraca, levantar acampamento e ir para a sua casa permanente, para sua morada eterna. Morrer para o cristão é mudar de endereço. É ir para a casa do Pai.

A morte não teve poder de apavorar Paulo, pois para ele o viver é Cristo e o morrer é lucro. Morrer para o cristão é deixar o corpo e habitar com o Senhor. É partir para estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor. Devemos olhar para o futuro com um senso profundo da imerecida recompensa de Deus, (2Tm 4.8). “Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele dia, e não somente a mim, mas a todos quantos amam a sua vinda”. Paulo mesmo no corredor da morte tem plena consciência dos acontecimentos. Está convencido de que caminha não para o patíbulo do martírio, mas para o pódio da coroação. Ele não está com medo de morrer porque sabe em quem tem crido e para onde está indo.

Portanto sua morte não era uma derrota, mas um triunfo; não era um fracasso, mas uma premiação; não era uma vergonha, mas uma recompensa. Porque foi justificado pela graça diante de Deus, pela justiça e sacrifício de Cristo imputada a ele, agora, salvo não da morte, mas na morte, vai receber a imerecida recompensa, a coroa da justiça.

À semelhança de Paulo, não caminhamos para o entardecer; caminhamos para a gloriosa manhã da eternidade, onde reinaremos com Cristo pelos séculos sem fim.

A bem-aventurada esperança da glória completa a nossa gratidão pela nossa luta aqui na terra. (2 Tm 4.7-8)

Além de combater o bom combate, o apóstolo Paulo também “acabou a carreira” e “guardou a fé”. Mais importante do que começar, é a forma como terminaremos a carreira. O apóstolo Paulo tinha a consciência da carreira que percorreu e da fé que guardou. Durante os anos de seu ministério, sua fé permaneceu pujante e robusta, o que lhe permitiu olhar para a sua circunstância com atitude serena. Embora não pudesse evitar a morte física, sabia que estar com o Senhor era a coroação da sua trajetória, ele disse que é preciso: “termos confiança e desejarmos, antes, deixar este corpo, para habitar com o Senhor” (2 Co 5.8) e “partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor”. (Fp 1.23).

O apóstolo Paulo também nos ensina que é preciso olhar para o futuro com a certeza do nosso galardão, e enxergar, pela fé, que o nosso trabalho não é vão no Senhor, (1Co 15.58), pois há uma coroa de justiça guardada para cada crente em Jesus, (2Tm 4.8). Estamos nas mãos do Justo Juiz.  

"E, se alguém também milita, não é coroado se não militar legitimamente", (2 Timóteo 2:5).

A vida aqui na terra não é simplesmente viver; a morte não é simplesmente morrer, em (2Timóteo 4.6-8), Paulo faz uma profunda análise do seu ministério e, antes de fechar as cortinas da sua vida, abre-nos uma luminosa clareira com respeito ao seu ministério pastoral e sua dedicação na obra de Deus, bem como isso terminaria. Paulo olhou para o tempo presente que estava vivendo com serenidade, (2Tm 4.6). O veterano apóstolo sabia como e quando iria morrer. Mas sabia também que não era Roma que lhe tiraria a vida. Disse ele “Quanto a mim, estou sendo já oferecido por libação, e o tempo da minha partida é chegado”.

O apóstolo Paulo foi o maior bandeirante do Cristianismo. Plantou igrejas nas províncias da Galácia, Macedônia, Acaia e Ásia Menor.

Pregou nos lares e em lugares públicos. Viajou por mares e desertos. Percorreu cidades e vilarejos. Pregou com entusiasmo e fervor. Foi preso, açoitado e apedrejado. Enfrentou naufrágios e toda sorte de ameaça. Terminou seus dias pobre e cheio de cicatrizes. Porém, nem todos os Césares de Roma influenciaram tanto a história como ele. Na sua segunda prisão em Roma, de onde saiu para o martírio fez um balanço completo da sua vida nas cartas pastorais endereçadas a Timóteo seu filho na fé.

Deus abençoe você e sua família.

 

Pr. Waldir Pedro de Souza

Bacharel em Teologia, Pastor e Escritor.

 


segunda-feira, 22 de abril de 2024

UMA ORAÇÃO ESPECIAL DO REI DAVI

UMA ORAÇÃO ESPECIAL DO REI DAVI

 

Diz o rei Davi no Salmo 5 esta frase bem conhecida dos evangélicos que gostam de orar: “...em longas noites eu a ti vigiarei...”. Isso demonstra que o rei Davi era um homem que gostava de orar e louvar a Deus em oração.

Assim clamava o rei Davi ao Senhor no Salmo 5: “Atende à voz do meu clamor, Rei meu e Deus meu, pois a ti orarei. Pela manhã, ouvirás a minha voz, ó SENHOR; pela manhã, me apresentarei a ti, e vigiarei”.

Davi diz também no Salmo 5: SENHOR, Guia-me na Tua Justiça.

A maior parte dos Salmos foi escrita durante a vida de Davi, o segundo rei de Israel. Alguns incluem detalhes que os posicionaram em momentos específicos da vida desse grande líder. Na maioria dos casos, porém, não temos dados suficientes para identificar o contexto exato.

O Salmo 5 também representa a atitude que caracterizou a vida de Davi, mas alguns aspectos de suas súplicas pareciam típicas dos primeiros anos de seu reinado, quando esse homem humilde buscava o favor de Deus para consolidar seu reinado. Dá para imaginar Davi chegando dia após dia na presença do Senhor, exigindo que a causa dos justos seja estabelecida, e que os arrogantes e ímpios sejam derrotados.

Davi encaminhou esse Salmo ao mestre de canto para ser utilizado na inspiração ao Senhor, e iniciou o hino com seu pedido para o Senhor ouvir suas súplicas, (versos 1 a 3). Ele pediu para Deus ouvir suas palavras e até seu gemido, começando com as suas orações matinais. Apesar de sua verdadeira intimidade com Deus, Davi não abordou o Senhor com exigências e critérios próprios.   Ele apresentava suas orações, clamando e implorando a Deus diariamente, e esperava as respostas do Senhor.

A mensagem principal do Salmo depende de uma distinção entre os ímpios e os justos, Davi se posicionou entre os fiéis e seus pedidos para Deus aplicam a justiça na separação desses dois grupos de homens e se baseiam no caráter justo do Senhor: “Pois tu não és Deus que se agrade com a iniquidade, e contigo não subsiste o mal”, (verso 4). Nos versos seguintes, ele passa da separação entre o certo e o errado para a distinção entre os homens que praticam a iniquidade e os justos que servem ao Senhor. Ele afirmava que os arrogantes e praticantes da iniquidade, sejam mentirosos, violentos ou fraudulentos, não seriam ouvidos por Deus. (versos 5 e 6).

Davi não se vê como um desses fraudulentos, como observamos no verso 7 que diz: “porém eu, pela riqueza da tua misericórdia, entrarei na tua casa e me prostrarei diante do teu santo templo, no teu temor”. Sua confiança, porém, não indica arrogância ou autojustiça. Ele não entra pela abundância da sua própria manutenção ou perfeição espiritual, e sim pela misericórdia de Deus. E Davi não entra para ficar de pé do lado de Deus como se fosse um colega. Ele se prostra em submissão e entusiasmo, entendendo perfeitamente a posição exaltada do seu Criador.

É correto e bom sentir a confiança de entrar na presença de Deus, mas essa ousadia não se baseia em nossos méritos. Chegamos a Deus somente pela sua infinita graça, (Hebreus 4:14-16).

Enquanto observava a conduta errada dos seus oponentes, inimigos e pedia a justiça divina para com eles, Davi se preocupava com os seus caminho e dizia: “SENHOR, guia-me na tua justiça, por causa dos meus adversários; endireita diante de mim o teu caminho”. (verso 8).

Não foi apenas vitória sobre seus inimigos que Davi procurava; ele desejava andar com Deus.

Talvez seria melhor dizer que ele entendeu que a única vitória verdadeira se encontra no caminho do Senhor. Vencer homens carnais com atitudes carnais seria, de fato, uma grande derrota. As armas dos servos do Senhor não são carnais, (2 Coríntios 10:3-6). Escrevendo mil anos depois de Davi, o apóstolo Pedro citou o exemplo de Jesus para ensinar este princípio: “pois ele, quando ultrajado, não reviveu com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se aquilo que julgava retamente”. (1 Pedro 2:23).

No final do Salmo, fica evidente que a distinção entre Davi e seus oponentes não foi apenas um conflito pessoal, e sim uma diferença em suas atitudes para com Deus. Os ímpios investem nos seus próprios planos e se rebelam contra Deus, enquanto aqueles que amam o Senhor investem nele e se regozijam no Criador. (versos 10 e 11).

A estrutura do Salmo 5 reflete a ênfase de Davi. Os três primeiros e os últimos dois versos não falam dos adversários e tribulações. Davi passou por provas, mas ele começou e terminou sua jornada com o foco exclusivamente em Deus. Nossa vida deve seguir o mesmo padrão.

Quando confiamos em Deus do começo ao fim, as adversidades são apenas momentos passageiros que não nos desviam do caminho. Jesus Cristo é o Caminho, a Verdade e a Vida.

Uma boa maneira de conhecer um cristão é observar sua oração. Por ser uma exteriorização do que há no íntimo, no interior da pessoa, quando vemos alguém orar conhecemos um pouco do que há onde somente Deus pode ver.

Assim, se uma pessoa nunca toma a iniciativa de orar diante das dificuldades do dia a dia e até mesmo de tarefas corriqueiras ou se, a pedido de alguém, ora mecanicamente, percebe-se não se tratar de alguém muito dado a buscar ao Senhor, seja em oração, seja pela leitura das Escrituras, seja pela meditação e contrição pessoal.

Se alguém ora reivindicando bênçãos ou rejeitando dificuldades, tal pessoa tem dificuldades em se submeter à vontade e às orientações de Deus e costuma criar seu próprio modo de segui-lo. Se alguém tem por hábito orar antes de cada coisa que vai fazer, mesmo que sejam em momentos corriqueiros, surge diante dos olhos uma pessoa que entende que Deus é soberano e que sabe que os cristãos são inteiramente dependentes dEle.

 Aquele que ora a Deus pedindo que cuide de certa situação, que faça sua boa vontade e que seja presente em cada detalhe, receberá de Deus a resposta, no tempo de Deus. Contudo, apesar da correta oração, não sabe esperar em Deus e passa imediatamente a atuar como se não tivesse orado e como se Deus nada fosse fazer no sentido de atender a oração. A pessoa pede ajuda de Deus e, em um instante, nega a ajuda que pediu tomando a frente, ela mesma, da solução dos problemas.

Davi dá um bom exemplo para os discípulos do Senhor Jesus. Basta notar as condições do seu dia a dia expressas no Salmo 5. Ele enaltece, diante de Deus, os justos (v.12) e os que confiam e amam o Senhor, (v.11), justamente porque eram as pessoas que ele tinha em menor número ao seu lado. É provável que os vv.4-6 demonstrem as características das pessoas que causavam problemas e riscos para o rei de Israel. São pessoas iníquas, (v.4), arrogantes, (v.5), enganadoras e violentas (v.6). Gente assim causa sofrimento a todos quantos estão ao seu redor.

Sabendo da presença e do risco que os inimigos representavam, Davi fez o correto: buscou a Deus em oração. Entretanto, dizer isso é tratar o assunto vagamente, visto que, em oração, podem-se fazer e falar muitas coisas, inclusive contraditórias. Temos visto, por exemplo, pessoas que oram repreendendo os males como se neles mesmos estivesse o poder para tanto; pessoas que ordenam bênçãos espirituais como se Deus fosse seu servo pessoal; pessoas que dizem para Deus que não aceitam algum mal que os acometa; e pessoas que, por incrível que pareça, oram perdoando o Senhor por ter-lhes infligido alguma provação.

Davi não orou assim, mesmo que estivesse preocupado com a violência e a maldade dos seus inimigos. Na verdade, ele teve três atitudes necessárias à oração baseada no ensino bíblico. Em primeiro lugar, ele clama a Deus por ajuda (v.1). O rei de Israel não repreendeu o problema, nem colocou Deus na parede, nem tampouco perdoou o Senhor por permitir a presença de inimigos. Davi, simplesmente, foi a Deus e fez uma petição pela solução do sofrimento. Com o coração compungido, ele diz “ouça as minhas palavras, ó Senhor, considera o meu gemido”, é como se dissesse: “Senhor, veja como estou sofrendo e me ajude”.

Em segundo lugar, Davi sabe seu lugar diante de Deus (v.2). Ele, o rei de Israel, se dirige ao Senhor e o chama de “Rei”. Na verdade, Davi diz “meu Rei e meu Deus”. Ele não se sente apenas como o grande rei cheio de súditos, mas sabe que também é um súdito, súdito de Deus. O orgulho que costuma, infelizmente, acompanhar um cargo como o seu, não nubla a visão de que há alguém que reina sobre ele. Isso faz com que ele não busque seus direitos ou seus próprios recursos na solução do sofrimento. Ele, antes, busca o Rei exatamente com a mesma humildade e dependência que os seus súditos o buscavam.

Finalmente, em terceiro lugar, ele espera pela atuação de Deus (v.3). Depois de orar a Deus, Davi conclui com uma observação no mínimo intrigante. Quando a primeira reação que imaginamos que alguém em problemas teria, a saber, iniciar rapidamente algumas ações no sentido de dar fim ao mal, o rei de Israel leva em conta que expôs sua angústia ao Deus Todo-Poderoso e confia na sua sábia resposta. Depois de abrir seu coração a Deus, Davi diz: “E eu aguardo”. Uma outra tradução possível seria “e fico observando”. Na verdade, essa palavra demonstra que Davi confiava tanto no poder, na sabedoria e no amor de Deus que, depois de orar, ele, realmente esperava pela resposta, qualquer que fosse. Isso não significa deixar de fazer o que é de sua responsabilidade, mas deixar de fazer o que não é, além de se abster de atitudes erradas por uma “boa causa”. Apesar de ser rei, Davi esperava como um servo, que seu Senhor e nosso também, agisse em favor de resolver os seus problemas e da nação de Israel.

Que exemplo a ser seguido por todos nós! Afinal, homens iníquos, arrogantes, enganadores e violentos cercam quase todos os cristãos. Que esse seja o incentivo e o exemplo para deixarmos de tomar caminhos tortuosos a fim de fazer o que é da alçada do Deus eterno e nos dediquemos, cada vez mais à oração. Mas não uma oração qualquer, a oração e as atitudes dignas daquilo que Deus nos ensinou nas Escrituras.

Quem ora a Deus constantemente não vive dos milagres dos outros, mas vive experimentando em suas vidas os milagres de Deus diuturnamente.

O apóstolo Paulo em sua primeira epístola à Igreja em Tessalônica recomenda a importância da oração: “Orai sem cessar”. 1 Tessalonicenses 5:17.

A oração é o fortificante do cristão, um crente que não ora, é um crente fraco, está constantemente sujeito às ciladas do inimigo, tem uma vida espiritual “duvidosa”, vive de milagres dos outros, imagine uma pessoa que não se alimenta direito, que está com deficiências de vitaminas e minerais, vive doente, uma pessoa desta nunca viverá com plenitude as promessas de Deus se não tiver saúde espiritual.

Em contra partida o crente de oração é um crente vitaminado, vive as promessas de Deus, dá frutos, recebe um alimento novo do Senhor todos os dias de sua vida, constantemente está em comunhão com o Pai e está conectado a Ele e divide as bênçãos recebidas.

Não existe uma fórmula secreta para se alcançar este nível com o Senhor, mas como no início desta postagem citamos o Salmo 5, faça como Davi e ore sem cessar, com dedicação, com fé, crendo na vitória, buscando e perseverando.

A oração sem dúvida nenhuma é a chave da vitória, quanto mais orarmos, mais perto ficamos do nosso Criador, é como se o céu descesse até nós ou se nós subíssemos até o céu quando falamos com Ele. A oração não é algo pronto, pré-concebido, é uma coisa que vem do coração, da alma, é algo feito com sinceridade, a única oração deixada pelo Senhor a nós é o Pai-nosso, demais é como se nós estivéssemos conversando com nosso melhor amigo, fale assim com Ele, coloque suas alegrias a Ele, suas angústias, seus problemas, agradeça pelo que Ele é, pelas coisas que têm feito por você. Não fale com Deus em oração apenas para pedir, pedir e pedir como nós muitas vezes fazemos, alegre-se com Ele, converse com Ele, agradeça também.

A oração tem tanto poder que tem a capacidade de fazer com que Deus incline seus ouvidos para ouvir nossas petições, quando é feita de coração, na própria palavra de Deus nos diz que nossas orações chegam ao seu trono como incenso. Salmos 141:2.

O Senhor anseia por nossas orações, para alcançar o favor de Deus nós precisamos nos humilharmos e orarmos e nos convertermos de nossos erros, Ele nos ouvirá e nos sarará, conforme está escrito em 2 Cr.7:14.

A chave da nossa vitória é a oração, é a nossa auto-humilhação, e nos prostrarmos diante de Deus até com o rosto no pó.

Deus hoje quer te entregar a sua vitória, entregue-se completamente diante dEle com todo seu ser, com toda a sua alma e com todo o seu entendimento.

Deus abençoe você e sua família.

 

Pr. Waldir Pedro de Souza

Bacharel em Teologia, Pastor e Escritor.