quinta-feira, 21 de setembro de 2017

O QUE É CORRUPÇÃO


ANALISANDO O QUE É CORRUPÇÃO

Desvendando a lógica da corrupção; certos fenômenos que não pareciam fazer parte do campo da corrupção mostram sê-lo, enquanto outros só o são para o senso comum. O que se corrompe não é só o indivíduo, que pode ser subornado, mas também o sistema simbólico que ele representa, tendo como consequência o esvaziamento semântico e a fratura do símbolo. O processo de corrupção tem início quando o representante da instituição sustenta simultaneamente duas lógicas excludentes, referidas à esfera pública e privada. A integridade moral é a recusa em sustentar essa contradição, obrigando o sujeito a uma renúncia, quer da sua posição pública, quer de seus interesses pessoais.

As Palavras-chave que podemos usar aqui na ótica analítica são: Corrupção; psicanálise; simbolismo; integridade moral.

O que é um olhar psicanalítico? A psicanálise opera construindo ou desconstruindo realidades psíquicas e ou sociais, recriando-as de maneiras diversas e ampliando possibilidades. Não há julgamento ou valoração. Mas há subversão dos usos rotineiros de um termo, de um conceito, de uma ideia até então consensual, naturalizada como ideologia. O primeiro e melhor exemplo da subversão de uma categoria operada pela psicanálise continua sendo a desconstrução de valores éticos e morais hodiernos. Ora construindo o que não se deveria construir, criando uma ilusão de ótica para tirar proveito próprio; ora desconstruindo para o mesmo fim. 

A abordagem psicanalítica da corrupção se afasta de uma atitude valorativa na medida em que se propõe a desvelar a lógica que confere à corrupção sua especificidade. Em outras palavras, o que faz com que a corrupção seja corrupção, e não algo próximo, como a perversão. Uma psicanálise da corrupção deveria ser capaz de responder às seguintes questões: a corrupção corrompe o quê?, segundo que lógica?, e com que consequências? Uma vez efetuado esse resgate, certos modos de ser que não pareciam fazer parte do campo da corrupção mostram fazer parte dele. Existem modos de ser que inicialmente são considerados corrupção o são apenas para o senso comum. 

Um estudo psicanalítico sobre a corrupção requer, ainda, que a psicanálise do divã não seja confundida com a psicanálise dos fenômenos cotidianos. Neste texto, não estamos interessados na pessoa que corrompe ou se deixa corromper, nem mesmo o que está sendo corrompido no indivíduo. Nosso foco é a corrupção sistêmica como fenômeno social e seus efeitos devastadores que não é apenas uma somatória de manifestações individuais, mas tem sua lógica própria que de consciente passa a ser inconsciente, e que cabe à psicanálise esquadrinhar o assunto para efeito sólido e positivo de melhora da sociedade em suas relações formais e informais.

O CAMINHO DA CORRUPÇÃO

Consultando no Aurélio o verbete "corrupção", encontramos como sinônimos: putrefação, depravação, adulteração, perda da pureza ou integridade; perversão ou deterioração de princípios morais. Quanto aos usos do termo, pode-se corromper um agente público e corromper cidadãos da iniciativa privada. Nossa investigação começa com os usos do termo: trata-se do mesmo processo e aplicado a pessoas diferentes; Talvez haja uma diferença significativa entre corromper um indivíduo comum do povo e corromper um representante de uma instituição e ou um agente público. Embora a primeira seja lamentável, intuímos que a segunda tem graves e maiores repercussões pela importância social das instituições públicas como o mundo da política e da Justiça em particular.

A LÓGICA DA CORRUPÇÃO

Para os afeiçoados à esse tipo de desvio moral parece está tudo bem e agem como se nada tivesse acontecendo de errado ao seu redor. Todos os corruptos e corruptores tratam do assunto sem a menor falta de caráter e com toda a naturalidade do mundo querendo fazer valer a sua atitude como se estivesse tudo dentro da maior regularidade e normalidade, não importando os efeitos negativos e prejuízos que irão causar à sociedade ou ao patrimônio público. Geralmente acham que não estão sendo omissos e nem desobedientes às leis e aos princípios éticos e morais que o comportamento do ser humano exige na interpessoalidade negocial.

No início do texto propusemos algumas questões: a corrupção corrompe o quê?, segundo que lógica?, e com que consequências?. Concluímos que a lógica da corrupção é aquela que faz com que um representante de uma instituição sustente simultaneamente duas lógicas contraditórias, a pública e a privada, resultando na corrupção de ambas as morais e na instituição da imoralidade. Dissemos também que, ao olhar psicanalítico, certos modos de ser que não pareciam fazer parte do campo da corrupção mostram fazer parte dele, enquanto outros fazem parte apenas para o senso comum (como a "corrupção jovial" por exemplo).  

Um observador fez uma trabalho dentro de salas de aula de uma escola pública. Os professores se queixavam de indisciplina. Verificou-se que, para boa parte dos alunos, palavras como "aprender", "estudar", "profissão", "futuro", "sala de aula", não significavam rigorosamente nada. Não é de admirar que os alunos nem sequer consigam ficar sentados durante as aulas, quanto mais prestar atenção e estudar. Para o senso comum, trata-se de indisciplina, mas a lógica que determina esse comportamento é a do esvaziamento semântico e a consequente alteração na sensibilidade da sociedade que se sente insegura por tanto descaso com a responsabilidade, não se importando com o PORQUÊ de estarem ali naquela casa de ensino, o que deveriam aproveitar o máximo para se formar melhor cidadãos no meio de uma sociedade moderna. Sensibilidade e responsabilidade não têm peso normal no racional  da juventude em idade colegial como deveria ter.

CONCLUSÃO

Concluímos a análise sobre a corrupção dos sistemas simbólicos com a menção a alguns fenômenos determinados pela fragilidade do símbolo, que caracteriza a pós-modernidade. Nossa análise vai ao encontro de algumas idéias quando se define a pós-modernidade como uma descrença generalizada nas grandes narrativas que organizavam nossa sociedade, narrativas essas que constituíam a subjetividade moderna. As grandes narrativas eram produzidas e sustentadas por algumas instituições que caracterizavam a cultura moderna. Parece que, com a "morte de Jesus" já era uma premissa de que Judas Iscariotes que era o apóstolo tesoureiro dos seguidores do Mestre, não se conformou apenas em confrontar seu Senhor com a maior das infâmeas de seu tempo fazendo com que o dinheiro, moedas,  não foi apenas o que fez ser desleal a ponto de aceitar o que a instituição religiosa que perdeu seu lastro de fidelidade aos bons princípios mas o desejo de se enriquecer a qualquer custo o vender o seu Mestre por 30 moedas de prata. Esse fato parece ter afetado outras instituições no decorrer da história. Ora se um juiz aceita suborno, é porque ele já não acredita na Justiça que ele mesmo vai julgar. O sistema todo se corrompe, levando a um descrédito crescente na instituição, num movimento dialético em que novos juízes aceitarão suborno, e assim por diante.

Finalizando quero enfatizar  que a corrupção produz um vazio existencial que tem sido diagnosticado como "depressão". A miséria simbólica da corrupção chama-se falsa moralidade e inversão de valores éticos e  tem produzido cada vez mais formas de subjetividade que, em maior ou menor grau, estão incapacitando pessoas para a vida e a convivência em sociedade organizada. Preferem apodrecer na cadeia do que conviver honestamente e ser exemplo para futuras gerações. Estão anunciando nos meios de comunicação que tem aumentado o número de suicídios e estão também sugerindo ações de prevenção. Quanto a Judas Iscariotes, esse traidor preferiu se suicidar. Quanto a você e eu que estamos vivos fica um alerta: é melhor conformar com o pouco que ganhamos honestamente e dormir em paz do que ter o muito, mas de maneira errônea e não ter sossego na vida. Ganhar o pão nosso de cada dia honestamente com o suor de nosso rosto e do trabalho de nossas mãos, não tem dinheiro que paga. 

Pr. Waldir Pedro de Souza
Bel. em Teologia, Pastor e Escritor.

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