segunda-feira, 8 de julho de 2019

QUEM SÃO OS ANJOS E COMO SÃO DEFINIDOS NA BÍBLIA.

QUEM SÃO OS ANJOS E COMO SÃO DEFINIDOS NA BÍBLIA. 

Curiosidade: Existe a figura do “anjo ou arcanjo” “Rafael” na Bíblia evangélica? 

Trago informações importantes sobre este assunto nesta postagem e outras curiosidades sobre os anjos. 

A matéria que estuda sobre os anjos chama-se Angelologia.

A primeira coisa que devemos ser bem informados é que todos os anjos foram criados por Deus. Alguém pode questionar dizendo: mas é os anjos maus foi Deus que fez também?

Esclarecemos que todos os anjos quando foram criados por Deus eram anjos bons. Os maus se tornaram maus por seguirem os que causaram uma rebelião contra Deus nos céus. 

1.  A criação dos anjos. 

Os  anjos estão sujeitos ao governo de Deus. O importante  papel que têm desempenhado na história do homem,  torna-os merecedores de referência especial e de um estudo especial, pois, nas Escrituras Sagradas, sua existência é sempre considerada matéria pacífica desse sua criação. 

Desta forma estaremos nos ocupando em estudar a partir  do presente momento sobre os anjos, que são chamados de ministros de Deus. (Hb 1:14).

02. Definição do termo “Anjo".
     
A palavra portuguesa anjo possui origem no latim  angelus ,  que por sua vez deriva-se do grego angelos . No  idioma  hebraico, temos malak . Seu significado básico é “mensageiro” (para designar  a idéia de ofício de mensageiro). 

O grego clássico  emprega o termo angelos para o mensageiro, o embaixador em assuntos humanos, que fala e age no lugar daquele que o enviou.

No  AT, onde o termo malak ocorre 108 vezes,  os  anjos aparecem  como seres celestiais, membros da corte de Yahweh,  que servem e louvam a Ele (Ne 9:6; Jó 1:6), são espíritos ministradores  (1Rs  19:5),  transmitem a vontade de  Deus  (Dn  8:16,17)), obedecem a vontade de Deus (Sl 103:20), executam os propósitos de Deus  (Nm  22:22), e celebram os louvores de Deus  (Jó  38:7;  Sl 148:2).

No NT, onde a palavra angelos aparece por 175 vezes, os anjos  aparecem como representativos do mundo celestial e  mensageiros  de  Deus. 

Funções semelhantes às do AT são atribuídas  a eles,  tais como: servem e louvam a Cristo (Fp 2:9-11;  Hb  1:6), são  espíritos ministradores (Lc 16:22; At 12:7-11;  Hb  1:7,14), transmitem a vontade de Cristo (Mt 2:13,20; At 8:26), obedecem  a vontade  dEle (Mt 6:10), executam os Seus propósitos  (Mt  13:39-42), e celebram os louvores de Cristo (Lc 2:13,14). Ali, os anjos estão  vinculados a eventos especiais, tais como: a concepção  de Cristo (Mt 1:20,21), Seu nascimento (Lc 2:10-12), Sua  ressurreição (Mt 28:5,7) e Sua ascensão e Segunda Vinda. (At 1:11).

O  termo teológico apropriado para esse estudo que  ora iniciamos é Angelologia (do grego angelos , “anjo” e logia , “estudo”, “dissertação”).

Angelologia, se constitui, portanto, de doutrina  específica dentro do contexto daquilo que são denominados  de Teologia Sistemática, a qual se ocupa em estudar a existência, as características, natureza moral e atividades dos anjos.
Iniciaremos, portanto, pelo estudo da existência dos anjos.

03. Sua existência.   

Ao  iniciarmos nosso estudo de Angelologia, faz-se  necessário que assentemos biblicamente a verdade da existência  dos anjos.

A  existência dos anjos, conforme veremos a  partir  de agora,  é  claramente demonstrada pelo ensino, tanto  do  Antigo, quanto do Novo Testamentos.

a) Estabelecida pelo Ensino do Antigo Testamento.

São inúmeros os textos do AT que comprovam a  realidade da existência dos anjos. Queremos, no entanto, destacar apenas os que  se seguem: Gn 32:1,2; Jz 6:11ss; 1Rs 19:5; Ne 9:6; Jó  1:6; 2:1;  Sl  68:17; 91:11; 104:4; Is 6:2,3; Dn 8:15-17;  
Nos  textos acima vemos os anjos em suas funções  principais  de  servir e louvar a Yahweh, transmitir  as mensagens  de Deus, obedecer Sua vontade, executar a vontade de Deus, e  também servir como guerreiros de Deus. 

b) Estabelecida pelo Ensino do Novo Testamento.
No  contexto do NT, os anjos não são apresentados  simplesmente como “mensageiros de Deus”, mas também como  “ministros aos herdeiros da salvação” (Hb 1:14). 

Outrossim, a existência dos anjos é apresentada de  maneira inequívoca no NT. 

Vejamos por exemplo os textos a seguir: Mt  13:39;  13:41; 18:10; 26:53; Mc 8:38; Lc 22:43; Jo  1:51;  Ef 1:21; Cl 1:16; 2Ts 1:7; Hb 1:13,14; 12:22; 1Pe 3:22; 2Pe 2:11; Jd 9; Ap 12:7; 22:8,9.

04. Quem é o Arcanjo Miguel.

 Pretendemos  a  partir de agora estudar a  respeito  de cinco classes especiais de anjos, a começar por Miguel, o  Arcanjo.

No grego encontramos Michael, heb. mika’el. O nome  Miguel significa “quem é como El (Deus)?”.

A  tradição  sobre a existência de arcanjos  não  fazia parte  original da fé judaica. Assim, na literatura bíblica,  Miguel é introduzido em Dn 10:13,21 e 12:1 e reaparece no NT em  Jd 9 e Ap 12:7. Embora algumas literaturas tenham Gabriel como outro Arcanjo (totalizando sete na literatura apócrifa e pseudoepígrafa, onde  quatro  nomes  são revelados como Arcanjos:  Miguel,  Gabriel,  Rafael  e Uriel.

A Bíblia só revela a existência de um único Arcanjo,  Miguel. Isto é demonstrado pelo fato de que nas duas ocorrências da palavra grega archangelos , “arcanjo”, 1Ts 4:16 e Jd 9, o termo aparece  ligado ao nome de Miguel.

O Miguel que se pode encontrar no NT, surge no AT  apenas no livro de Daniel. Tem responsabilidades especiais como campeão de Israel contra o anjo rival dos persas (Dn 10:13,21), e ele comanda os exércitos  celestiais contra todas as forças sobrenaturais do mal  na última grande batalha. (Dn 12:1). 

Na literatura judaica recente, bem como nos apócrifos e pseudoepígrafos, o nome de Miguel é apresentado como guardião  militar  de Israel.

No NT, Miguel aparece apenas em duas ocasiões. 

Em Jd 9, há  referência a uma disputa entre Miguel e o diabo com  respeito ao  corpo de Moisés. Essa passagem é bastante polêmica. 

Orígenes acreditava  que isto estaria registrado num apócrifo  chamado  de “Assunção de Moisés”, mas a história não aparece nos textos existentes, porém incompletos, desta obra.

A literatura rabínica posterior  parece ter conhecimento desta história. O outro texto  em que  Miguel aparece, é Ap 12:7, que retoma o tema de Dn 12:1,  apresentando-se Miguel como sendo o vencedor do dragão  primordial, identificado como Satanás.

05. Os Serafins

O  termo hebraico é saraph. Quanto à origem exata  e  a significação desse termo, não existe concordância entre os eruditos. Provavelmente, deriva-se da raiz hebraica saraph , cujo significado é “queimar”, o que daria a idéia de que os Serafins  são anjos rebrilhantes, uma vez que essa raiz também pode  significar “consumir com fogo”, mas também “rebrilhar” e “refletir”.

A única menção a esses seres celestiais nas páginas das Escrituras  Sagradas fica no livro de Isaías (Is 6). Os  serafins aparecem  associados com os Querubins na tarefa de  resguardar  o trono  divino.   

Os seres vistos por Isaías, (os Serafins), tinham aparência de forma  humana, muito   embora  possuíssem  seis asas cada um. (Is 6:2).

Estavam postos  acima  do trono  de Deus (Is 6:2a), o que parece indicar que sejam líderes na adoração ao Senhor. Uma dessas criaturas entoava um refrão que Isaías registra com suas palavras: “Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos;  a terra inteira está cheia da Sua glória”.  (Is  6:3). 

Tão vigorosa era esta adoração, que é dito que o limiar do Templo divino se abalava e o santo lugar ficava cheio de fumaça.

Pelo que observamos no texto, parece que para Isaías  os Serafins  constituíam uma ordem de seres  angelicais  responsáveis por certas funções de vigilância e adoração. No entanto, parecem ser criaturas morais distintas, e não apenas projeções da  imaginação  ou personificação de animais. Suas qualidades morais  eram empregadas exclusivamente no serviço de Deus.

06. Os Querubins.
     
No hebraico, temos o termo keruhbim, plural de kerub . No  grego cheroub que é uma palavra de etimologia incerta.

No  AT esses seres são apresentados como  simbólicos  e celestiais. No livro de Gênesis, tinham a incumbência de  guardar o caminho para a árvore da vida, no jardim do Éden (Gn 3:24). Uma função semelhante foi creditada aos dois Querubins dourados, postos em  cada extremidade do propiciatório (a tampa que cobria a  arca no santíssimo lugar. Êx 25:18-22; Cf Hb 9:5), onde simbolicamente  protegiam os objetos guardados na arca, e proviam,  com  suas asas  estendidas, um pedestal visível para o trono  invisível  de Yahweh (veja Sl 80:1 e 99:1, para entender essa figura). 

No livro de  Ezequiel (Ez 10), o trono-carruagem de Deus,  que  continuava sustentado por Querubins, tornava-se móvel. Também foram bordados Querubins nas cortinas e véus do Tabernáculo, bem como estampados nas paredes do Templo (Êx 26:31; 2Cr 3:7).

Tem sido objeto de críticas acirradas, o fato de que os povos  vizinhos de Israel possuíam criaturas  aladas  simbólicas.

Especialmente  os  Heteus popularizaram os grifos,  uma  criatura altamente complicada com corpo de leão, cabeça e asas de águia  e com a aparência geral semelhante à de uma esfinge. 

Por estes  motivos,  alguns críticos têm conjeturado que Israel tenha tomado esse  costume por empréstimo desses povos vizinhos.  No  entanto, fica bastante claro que a situação é inversa: os povos vizinhos é que deturparam a simbologia israelita, adaptando-a às suas  crendices.  Exemplo disto, é a conhecida “Epopéia de Gilgamesh”,  uma história babilônica do dilúvio, obviamente tomada por  empréstimo do relato bíblico.

07. O Anjo Gabriel.
     
O  vocábulo hebraico Gabriel significa “homem de  Deus” (heb.geber , “varão” e El, forma abreviada de Elohim , “Deus”).

No  AT,  Gabriel aparece apenas em Daniel, e  ali  como mensageiro  celestial  que surge na forma de um homem.  (Dn  8:16; 9:21). 

Suas funções são: revelar o futuro ao interpretar uma visão  (Dn 8:17), e dar entendimento e sabedoria ao próprio profeta Daniel (Dn 9:22).

No NT, Gabriel surge somente na narrativa de Lucas  que descreve o nascimento de Cristo. Ali, ele é o mensageiro  angelical  que anuncia grandes eventos como por exemplo o nascimento de João (Lc  1:11-20) e principalmente o de Jesus. (Lc 1:26-38).

Também é apresentado como aquele que “assiste diante de Deus” (Lc 1:19). Destes casos, conclui-se  que Gabriel  é o portador das grandes mensagens divinas aos  homens.

Podemos concluir sobre as atividades principais desses anjos nominados e conhecidos por seus nomes dados por Deus dizendo que na Bíblia Gabriel é o “anjo mensageiro” e Miguel o “anjo guerreiro”.

08. O Anjo do Senhor
     
Outro ensino veterotestamentário de grande importância, que  por sua vez está estritamente relacionado com as  Teofanias, são as aparições do Anjo do Senhor.

Optamos por estudar, separadamente, este assunto, em virtude de sua importância crucial, uma vez que as aparições do Anjo do Senhor se constituem em  Teofanias,  mas especificamente Teofanias onde as aparições de  Deus ou do próprio Senhor Jesus ou de Anjos enviados pelo Senhor,  se davam de forma humana. Lembrando que Deus só apareceu uma única vez, assim mesmo pelas costas, à Moisés. Quando Moisés viu tamanha glória resplandecente já estava à ponto de cair morto. 

A  expressão “Anjo do Senhor” ou sua variante “Anjo  de Deus”,  se encontram mais de cinquenta vezes no AT.  Portanto,  é necessário algumas considerações acerca desse personagem, que  se reveste de grande importância quando tratamos da possibilidade da encarnação desse ou desses seres angelicais em forma humana. 

A primeira aparição bíblica do “Anjo do Senhor”, foi no episódio  de  Agar, no deserto (Gn 16:7).  Outros  acontecimentos incluíram pessoas como Abraão (Gn 22:11,15), Jacó (Gn  31:11-13), Moisés (Êx 3:2), todos os israelitas durante o Êxodo (Êx 14:19) e posteriormente em Boquim (Jz 2:1,4), Balaão (Nm 22:22-36), Gideão (Jz 6:11), Davi (1Cr 21:16), entre outros.

A Bíblia nos informa que o Anjo do Senhor realizou  várias  tarefas semelhantes às dos anjos em geral. Às vezes,  Suas aparições eram simplesmente para trazer mensagens do Senhor Deus, como  por exemplo em Gn 22:15-18; 31:11-13. Em outras  aparições, Ele  fora enviado para suprir necessidades (1Rs 19:5-7)  ou  para proteger o povo de Deus de perigos (Êx 14:19; Dn 6:22).

Com relação à identidade do Anjo do Senhor, os eruditos não são e nunca foram unânimes, entretanto, não há porque duvidar da  antiquíssima interpretação Cristã de que, nesses casos acima citados, encontramos manifestações pre-encarnadas da segunda  pessoa da Trindade, ou seja, do Senhor Jesus o Filho unigênito do Pai.

Desejamos, portanto, apresentar a seguir três  argumentos  bíblicos que comprovam, indubitavelmente, que o Anjo do  Senhor é Jesus Cristo antes de encarnado.

Josué 5:14 Quando o Anjo do Senhor apareceu a  Josué, diz a Palavra do Senhor que ele “…se prostrou sobre o seu rosto na terra, e O adorou, e disse-lhe: Que diz meu Senhor ao seu servo?”. Se o Anjo do Senhor não fosse o próprio Senhor (ou  melhor, o  Senhor  Jesus como Segunda Pessoa da Trindade), o  anjo  (caso fosse simplesmente “um anjo”) teria proibido a Josué de adorá-lo, como ocorreu em Ap 19:10 e Ap 22:8,9.

Jz 13:18 Embora concordemos com o fato de que existem controvérsias  a respeito desta passagem, reputamos a mesma  como factual e elucidativa. Quando Manoá, pergunta ao Anjo do Senhor, o  Seu  nome, Ele responde: “…porque perguntas assim  pelo  meu nome, visto que é maravilhoso ?” Uma comparação desta resposta com a passagem de Is 9:6, demonstra que o Anjo do Senhor que apareceu a Manoá é o Menino que nos fora dado de Isaías. Isto é, o Anjo do Senhor, cujo Nome é Maravilhoso (YHWH), é o próprio Senhor, e  ao mesmo tempo o Menino que nos fora dado.

A  terceira prova escriturística que queremos  apresentar é que no contexto neotestamentário, a Bíblia deixa de utilizar-se do termo “o Anjo do Senhor” como pessoa específica. Isto é demonstrado pelo fato de que o artigo definido masculino singular “o” deixa de ser utilizado, sendo substituído pelo artigo indefinido  “um”. Alguns exemplos disto, são os textos de Lc  1:11;  At 12:7 e At 12:23, dentre muitos outros.

Infelizmente, nem todas as ocorrências de Anjo do Senhor no NT, na versão ARC, se  encontram com o artigo indefinido “um”, o que ocorre na versão ARA nos textos citados e em outros correlatos.

Esta substituição possui um grande significado. Isto é, no  contexto do NT, contemporâneo ou posterior à  Encarnação,  as manifestações angelicais não eram do Anjo do Senhor, mas meramente de um de seus anjos, pois o Anjo do Senhor já havia sido manifestado na carne (1Tm 3:16).

Existe a figura do Anjo ou “Arcanjo” Rafael na Bíblia evangélica?

Existe na Bíblia Evangélica a figura do Anjo ou Arcanjo Rafael? Claro que não. Mas está sendo proclamado em várias correntes chamadas de neopentecostais que ele existe e é o que aparece como “anjo da cura" no livro do profeta Daniel. 

Ali no livro do profeta Daniel o que aparece é o arcanjo Miguel, único arcanjo mencionado em toda a Bíblia conhecida como Bíblia oficial dos evangélicos em todo o mundo. 

A figura do “arcanjo Rafael” aparece somente nos livros apócrifos e suas “estórias” contadas ali são duvidosas e portanto não são confiáveis.  

Deus só permitiu que fossem conhecidos pelo nome um Arcanjo de nome “Miguel” e um Anjo de nome “Gabriel “, sem contarmos com “Lúcifer” o anjo da perdição. 

Quero lembrar aqui que sempre apareceram anjos, por ordens de Deus, para socorrer e ajudar alguém ou algum povo ou alguma nação que esteja clamando por socorro, porém sem mencionar o nome de qualquer um  deles. 

Vejamos como, onde é quando aparece a figura do “arcanjo Rafael”.

Segundo tradições judaicas e alguns círculos do cristianismo que adotam a bíblia com os livros apócrifos, chamada no Brasil de bíblia dos católicos (principalmente a tradução Matos Soares), Rafael é um dos sete anjos que assistem na presença do Senhor. Por isso ele também seria chamado de “arcanjo Rafael”. Mas o anjo ou arcanjo Rafael não é citado na Bíblia hebraica, e nem no cânon sagrado que é a Bíblia com 66 livros, conhecida no Brasil como Bíblia dos Crentes. Por esse motivo a teologia reformada não aceita nenhuma doutrina sobre a existência de um anjo chamado Rafael.

Então Rafael não aparece na Bíblia verdadeira? Claro que não. Vejamos. 

Para responder a pergunta se um anjo chamado Rafael aparece ou não na Bíblia, é preciso considerar uma breve história da formação do cânon bíblico. A Bíblia cristã é formada pela Bíblia hebraica (que é o Antigo Testamento) e pelo Novo Testamento. Nem no Antigo Testamento hebraico e nem no Novo Testamento Cristão um anjo denominado como arcanjo Rafael é mencionado.

Então como surgiu a história desse “anjo ou arcanjo Rafael?

No período intertestamentário, ou interbíblico de 400 anos que o povo de Israel ficou sem profeta, compreendendo o tempo do último livro do velho testamento que é o do profeta Malaquias e início do novo testamento com o nascimento de João Batista,   muitas obras literárias judaicas foram escritas. 

Daí quando a Bíblia hebraica foi traduzida para o grego na chamada Septuaginta, alguns desses livros acabaram sendo incluídos nessa tradução.

A popularidade da Septuaginta foi muito grande por causa do domínio do idioma grego naquele tempo. Por isso nos dias da Igreja Primitiva a Septuaginta era muito utilizada pelos cristãos.

Quando o cânon da Bíblia Cristã foi oficializado pela Igreja, originalmente só foram contados na composição do Antigo Testamento aqueles livros que também foram reconhecidos pela tradição judaica como inspirados. Os livros apócrifos e os acréscimos apócrifos foram retirados do cânon sagrado, sendo rejeitados porque não foram reconhecidos como inspirados por Deus. 

Somente posteriormente algumas tradições cristãs católico romanas e ortodoxas, reconheceram certos livros que foram escritos no período intertestamentário como canônicos para serem inseridos na versão católica. 

Entre elas estão principalmente as tradições católica e ortodoxa. Os cristãos protestantes não aceitam esses livros como inspirados.

Vamos analisar mais sobre como a Bíblia surgiu.

É justamente num livro rejeitado como inspirado pela tradição judaica e pela Igreja Reformada que o anjo Rafael é citado. 

A obra em questão é o livro de Tobias, que é aceito pelas Igrejas Católica e Ortodoxa em seu cânon. Por isto católicos e ortodoxos sempre irão dizer que o anjo Rafael aparece na Bíblia; enquanto protestantes dirão que não.

 Além do livro de Tobias, o apócrifo apocalíptico judaico de Enoque também faz menção de Rafael como um arcanjo.

O que esses escritos falam sobre o anjo ou arcanjo Rafael?

No livro Apócrifo de Tobias o anjo Rafael toma a forma humana e se encontra com um homem hebreu chamado Tobias, cujo pai havia ficado cego, Rafael se apresenta pelo nome de Azarias e Tobias até desconfia de sua origem, mas o arcanjo Rafael lhe fornece uma suposta genealogia, dizendo que seu pai se chamava Ananias. (Tobias 5:15-19).

O livro diz que o anjo Rafael ajudou Tobias em seu caminho. No rio Tigre Tobias conseguiu pescar um peixe que havia lhe atacado. Então Rafael lhe ordenou que preservasse o coração, o fígado e o fel do peixe. Durante a viagem Tobias acabou ficando noivo de uma mulher chamada Sara, que na realidade era sua prima. Essa mulher era atormentada por um demônio que matava seus maridos na noite de núpcias.

Aconselhado pelo anjo Rafael, Tobias queimou o coração e o fígado do peixe na noite de núpcias para espantar o demônio para longe. Depois, quando ele voltou para casa, Tobias ungiu os olhos de seu pai com o fel do peixe e o homem foi curado (Tobias 6:7,8). O anjo Rafael desapareceu e Tobias não teve mais contato com ele.

Pasmem os senhores se uma estória dessas pode ser inspirada por Deus para estar no Cânon Sagrado. 

Continuemos. Já no apócrifo de Enoque, o arcanjo Rafael é citado ao lado de Gabriel, Miguel e Fanuel (também chamado de Uriel) como sendo um dos quatro maiores anjos (Enoque 9; 10; 40).

Depois ele também é citado como um dos sete principais anjos. Segundo esse livro, sua função seria presidir sobre os espíritos dos homens. (Enoque 20:3).

E então, vocês acham que mesmo que   existe um arcanjo Rafael ou não? Lembrando aqui que a figura do Arcanjo é chamado por esse pré nome por sua atividade funcional de ser “assistente junto ao trono de Deus”.

Aqui é bom saber que o conteúdo do livro de Enoque tem sérios problemas quando analisado à luz das Escrituras. Ele traz ideias completamente contraditórias com a Palavra de Deus.

Quanto ao livro de Tobias, ele também é um dos mais contestados pela teologia reformada por registrar informações que se chocam com as doutrinas bíblicas. O próprio comportamento de Rafael não é comparável ao comportamento de nenhum outro anjo de Deus citado em qualquer parte do Antigo ou do Novo Testamento. 

Mas esse livro é considerado útil apenas do ponto de vista histórico e cultural e por isso foi adicionado e aceito pela “tradição católico romana” em sua escritura sagrada, porque o Vaticano considera a “tradição da igreja” maior do que qualquer inspiração de Deus naquelas “estórias“.  

Com relação aos anjos, no cânon hebraico do Antigo Testamento e no cânon do Novo Testamento, os únicos anjos de Deus citados nominalmente são Miguel e Gabriel. 

Inclusive, Miguel é o único arcanjo mencionado em toda bíblia, que em nenhuma outra parte traz a palavra “arcanjo” no plural. 

Então antes de falarmos sobre um “arcanjo Rafael”, biblicamente nem mesmo sabemos se de fato existem outros arcanjos além de Miguel. 

 Tipos e ministério dos anjos.

Sabemos que realmente há um número muito grande de anjos. Assim como o anjo Gabriel e o arcanjo Miguel, provavelmente esses anjos também possuem nomes. O nome Rafael no hebraico significa “Deus cura”, daí seu nome estar ligado à muitas correntes teológicas, principalmente as neopentecostais e carismáticas.  

Além disso, de fato antigas tradições judaicas já falavam sobre um anjo chamado Rafael. 

Então não é impossível que realmente exista um anjo com esse nome. Mas não podemos afirmar isto e muito menos formar qualquer doutrina nesse sentido. Como foi dito, além de Gabriel e Miguel a Bíblia não informa o nome de nenhum outro anjo do Senhor.

Fica aqui bem esclarecido que o anjo, o “Arcanjo Miguel” que foi enviado por Deus para socorrer o profeta que estava tão debilitado e já à beira da morte,   vejam no capítulo 12 do livro do profeta Daniel, cumpriu sua missão renovando e revigorando as forças do profeta, lhe trazendo a resposta de Deus para suas orações. 

Existem outras “ficções teológicas” com o nome do  “arcanjo Rafael” como por exemplo a que liga a participação dele no tanque de Betesda, que uma vez por ano descia e agitava as águas e o primeiro que caísse ou entrasse naquele tanque era curado instantaneamente. 

Vejam essa história, que não tem nada a ver com o “anjo Rafael“, no evangelho de João capítulo 5.1-4.

João 5.1-15. Colocamos aqui até o versículo 15 para você compreender melhor a história. 

1 Algum tempo depois, Jesus subiu a Jerusalém para uma festa dos judeus.
2 Há em Jerusalém, perto da porta das Ovelhas, um tanque que, em aramaico, é chamado Betesda, tendo cinco entradas em volta.
3 Ali costumava ficar grande número de pessoas doentes e inválidas: cegos, mancos e paralíticos. Eles esperavam um movimento nas águas.
4 De vez em quando descia um anjo do Senhor e agitava as águas. O primeiro que entrasse no tanque, depois de agitadas as águas, era curado de qualquer doença que tivesse.
5 Um dos que estavam ali era paralítico fazia trinta e oito anos.
6 Quando o viu deitado e soube que ele vivia naquele estado durante tanto tempo, Jesus lhe perguntou: "Você quer ser curado?"
7 Disse o paralítico: "Senhor, não tenho ninguém que me ajude a entrar no tanque quando a água é agitada. Enquanto estou tentando entrar, outro chega antes de mim".
8 Então Jesus lhe disse: "Levante-se! Pegue a sua cama e ande".
9 Imediatamente o homem ficou curado, pegou a  cama e começou a andar. Isso aconteceu num sábado,
10 e, por essa razão, os judeus disseram ao homem que havia sido curado: "Hoje é sábado, não é permitido a você carregar a cama".
11 Mas ele respondeu: "O homem que me curou me disse: 'Pegue a sua cama e ande' ".
12 Então lhe perguntaram: "Quem é esse homem que mandou você pegar a cama e andar?"
13 O homem que fora curado não tinha ideia de quem era ele, pois Jesus havia desaparecido no meio da multidão.
14 Mais tarde Jesus o encontrou no templo e lhe disse: "Olhe, você está curado. Não volte a pecar, para que algo pior não aconteça a você".
15 O homem foi contar aos judeus que fora Jesus quem o tinha curado.

De qualquer forma, havia essa crença popular entre o povo de que de tempo em tempo descia um anjo (segundo outras crenças religiosas seria o Arcanjo Rafael), porque os doentes ficavam à espera junto do tanque para receber o milagre. 

Quer fosse verdade ou não, as pessoas acreditavam que podiam serem curadas em Betesda. Mas a existência ou não de um anjo em Betesda não é o foco principal da história e sim Jesus Cristo. 

A Bíblia diz que existem muitos anjos. Eles formam exércitos muito grandes (Apocalipse 5:11). Mas apenas encontramos na Bíblia o nome de dois anjos: Gabriel e Miguel. Os anjos normalmente não chamam a atenção para si. Tudo que fazem é para a glória de Deus.

Então como devemos tratar os anjos?

Os anjos são servos de Deus, tal como todos que amam e seguem Jesus. Não devemos adorá-los, porque tudo que eles fazem vem de Deus. Os anjos não querem nossa adoração. (Apocalipse 22:8-9).

Também não devemos orar para os anjos. 

Eles não intercedem por nós nem estão sujeitos a nós. Os anjos obedecem apenas às ordens de Deus. Por isso, devemos orar para Deus, pedindo Sua ajuda e proteção, e Ele enviará seus anjos quando for necessário.

O fato é que essa informação sobre se havia ou não um anjo que descia às águas do tanque de Betesda não é o foco principal da narrativa de João. O foco principal era apresentar mais um grande milagre de Jesus Cristo, que foi apresentado como o Senhor Todo Poderoso, capaz de curar doenças incuráveis e capaz de restaurar a esperança perdida de um homem que sofria há trinta e oito anos de uma paralisia (João 5:5) e que não tinha ninguém que o colocasse naquela água (João 5:7) e, portanto, não tinha esperanças de uma mudança positiva em sua vida. 

A viva esperança no Cristo ressurreto,  nosso Eterno Senhor e Salvador amado, é a única saída que pode realmente nos trazer resultados e nos curar.

Deus abençoe você e sua família. 

Pr. Waldir Pedro de Souza 
Bacharel em Teologia, Pastor e Escritor. 


  

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