A HISTÓRIA BÍBLICA DE ELIMELEQUE
Quem era Elimeleque na história bíblica?
Elimeleque pertencia à
família hezronita, que habitava em Efrata de Belém no tempo dos juízes. Não
só Elimeleque, mas também seus filhos
Malom e Quiliom morreram em Moabe, voltando por isso Noemi e sua nora Rute para
Belém, onde esta última casou-se com Boaz, seu parente mais próximo, 'da
família de Elimeleque'. (Rute 1.2,3 - 2.1,3 -
4.3,9).
Rute
1.1-5.
1. E
sucedeu que, nos dias em que os juízes julgavam, houve uma fome na terra; por
isso um homem de Belém de Judá saiu a peregrinar nos campos de Moabe, ele e sua
mulher, e seus dois filhos;2. E era o nome deste homem Elimeleque, e o de sua
mulher Noemi, e os de seus dois filhos Malom e Quiliom, efrateus, de Belém de
Judá; e chegaram aos campos de Moabe, e ficaram ali.3. E morreu Elimeleque,
marido de Noemi; e ficou ela com os seus dois filhos.4. Os quais tomaram para
si mulheres moabitas; e era o nome de uma Orfa, e o da outra Rute; e ficaram
ali quase dez anos.5. E morreram também ambos, Malom e Quiliom, ficando assim a
mulher desamparada dos seus dois filhos e de seu marido.
1. O
que Elimeleque tentou fazer com a iniciativa de sair com sua família
de um lugar difícil para um lugar aparentemente melhor?
2. O
que deu errado?
3.
Qual é a responsabilidade de um “pai de família”?
4.
Até que ponto tenho direito de arriscar a vida da família para
alcançar meus objetivos?
5. Quais
cuidados percebemos que Elimeleque não tomou?
6.
Quais cuidados você tomaria ao levar sua família para uma aventura de
trabalho?
Podemos
identificar algumas características que se relacionam a Moabe:
1.
Moabe era uma fonte ilusória. Em momentos de crise alguns lugares parece
“saltar aos nossos olhos” como melhor alternativa. Mas, na sede qualquer água
suja parece ser melhor que a falta d’água. A terra de Moabe trouxe águas de
morte.
2.
Moabe era um atalho para conquistar e aquele momento pareceu a Elimeleque uma
grande oportunidade de driblar a escassez e a fome onde ele morava com sua
família. Há atalhos que nos fazem cortar caminhos, porém os problemas eram
muitos maiores do que os vividos ali.
3.
Moabe era fuga para as incertezas, era lugar de grande desafios. Há momentos
que, sem perceber, o que buscamos é fugir de desafios, mas não podemos deixar a
certeza do que temos de segurança para a família, por outros lugares com tantas
incertezas e total insegurança para a família. Uma ilusão de que “fora do nosso
campo de atuação” estaremos mais seguros permeia nossos pensamentos e nos
sentimos mais seguros fugindo, mas, como no caso de Elimeleque, foi tantas
surpresas desagradáveis que o levou à morte bem como dos seus dois filhos que
já eram casados. À viúva Noemi sobrou só lamento e tristeza para ela e para
suas duas noras.
4.
Moabe era cemitério de sonhos. Observe que o lugar que buscava realizar sonhos
foi o responsável pela morte deles. “Há caminho ao homem que parece direito,
mas o fim dele são os caminhos da morte”. Pv.14.12.
5.
Moabe é a terra que chama a atenção dos olhos por sua aparência, mas a
realidade era outra. É interessante ver que, Elimeleque se guiou pelo
“instinto”. Se guiou pelo que viu. Já vimos isso antes. O servo de Deus deve se
guiar pela fé e sob as orientações de Deus
e não pela vista.
Ainda
que a proposta seja muito tentadora; Ainda que você esteja sendo pressionado;
Ainda que a responsabilidade seja dura; Ainda que o desafio seja grande. Nunca
decida sozinho. Ore e peça a Deus a Sua direção através do Espírito Santo para
guiar seus passos e suas decisões.
O
retorno de Noemi de Moabe para Belém foi muito difícil, porque ela foi para
Moabe com seu esposo Elimeleque e com seus dois filhos, agora retorna para
Belém viúva e com uma nora que não a abandonou. Ela voltou para o seio de sua
família onde poderia ter segurança para sobreviver.
Porque Elimeleque mudou de Belém para Moabe?
O texto de Rt 1:1 mostra que a história do livro se passa no período
históricos do Juízes. Esse período iniciou com a conquista da terra prometida (
cerca de 1400 a.C.) e terminou com o início do período Monárquico (1040 a.C.).
O texto de Rt 4:17 mostra que Noemi foi Bisavó de Davi (1040 a 970 a.C.).
Analisando as datas, percebemos que a História do livro de Rute se passa
próximo do fim do Período dos Juízes, mais especificamente, entre o período que
Sansão foi Juiz (1177 a 1157 a.C.; Jz 15:20) e o período que Eli foi Juiz (1157
a 1117 a.C.; 1 Sm 4:18). As tradições judaicas situam a história no início do
período de Sansão como Juiz em Israel.
Embora o texto não faça menção a nenhum Juiz
especificamente, Rt 4:17 deixa claro que a distância da história de Davi para a
história de Noemi é de apenas duas gerações (Obede e Jessé). Se usarmos um
pouco de lógica, um pouco de matemática básica e as informações que o livro dos
juízes nos fornecem, sobre o tempo de ministério dos Juízes de Israel, chegamos
à conclusão de que, de fato, a história de Rute se passou entre os ministérios
de Sansão e Eli no intervalo de 1177 a 1117 a.C., aproximadamente.
Todas as datas citadas são baseadas nas datas
chaves expostas por Samuel Schultz nos capítulos 6 e 7 de sua Obra “A história
de Israel no Antigo Testamento”.
Nesse período (1177 a 1117 a.C.), a ameaça
dos filisteus foi terrível (Jz 13:1; 1 Sm 4). Devemos entender que o reino dos
filisteus fazia divisa com o oeste de Judá. Já Moabe, lugar para onde
Elimeleque migrou com sua família, fazia fronteira com o leste de Judá; ou
seja, Elimeleque se afasta do Oeste, onde havia forte ameaça de invasão filistéia,
e vai para o lado oposto, a leste, para as terras de Moabe, se afastando do
perigo.
A fome apontada no livro de Rute (Rt 1:1),
com certeza, ocorreu devido a opressão dos filisteus que forçou os filhos de
Judá a se afastarem das regiões fronteiriças a oeste. A morte precoce de Sansão
(1157 a.C.) deve ter acelerado a invasão dos Filisteus a tribo de Judá conforme
vemos em 1 Sm 4. Então, a decisão de Elimeleque em migrar para Moabe não foi
uma decisão tão precipitada; com certeza, foi uma escolha que também visava
proteger sua família da ameaça dos filisteus que vinha do Oeste, ao mesmo tempo
que buscava fugir da escassez de alimentos (Rt 1.1) causada pela tomada dos
filisteus da planície entre as tribos de Dã, Benjamim e Judá, que deveria ter
sido protegida por Sansão (Jz 14.25), e havia ficado desprotegida.
Logo, afirmar que Elimeleque fez uma escolha
precipitada, ou que lhe faltou fé para esperar no Senhor, ou mesmo que ele
tomou a decisão mais fácil e racional, ao invés de esperar em Deus, é uma
conclusão simplista diante de uma análise Bíblica mais acurada. Pior que uma
decisão mal tomada é uma indecisão. Quando os filisteus invadiram a região
central de Israel (conforme 1 Sm 4), um pouco acima da cidade de Belém,
encontraram uma resistência liderada pelos Juízes Samuel e Eli (1 Sm 4:1). Essa
resistência fracassou miseravelmente (1 Sm 4:10), pois o Senhor queria
despertar seu povo (1 Sm 7:3-6), ao mesmo tempo que estava trazendo juízo sobre
a casa de Eli (1 Sm 2:27-36) e confirmando o ministério de Samuel como Juíz. (1
Sm 7:7-15).
A morte de Sansão e a derrota estrondosa de
Israel sob o comando do sacerdote Juiz Eli, que culminou com o sequestro da
arca do Senhor (1 Sm 4:11), assustaria qualquer morador de Belém de Judá,
cidade bem próxima aos eventos. Não deve ter sido diferente com Elimeleque. É
provável que a grande vitória que Deus concedeu a Israel, através do Ministério
de Samuel, como narrado em 1 Sm 7:7-15, que culminou com a expulsão dos
filisteus do território de Israel, pode ter ensejado a volta de Noemi e sua
nora Rute para Belém de Judá, pois Rt 1:6 afirma que havia chegado até Moabe
notícias que o Senhor havia visitado seu povo. Isso deve ter ocorrido por volta
de 1107 a.C.
O
socorro de Deus para uma mulher viúva que além de perder seu marido perdeu
também seus dois filhos. Noemi foi terrivelmente amargurada mas as bênçãos de
Deus alcançaram a sua posteridade. A Graça de Deus foi estendida a uma viúva
Amargurada.
O
apóstolo Paulo escreveu em Romanos 8.28: “Sabemos que todas as coisas
cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo
o seu propósito”. O restante do livro de Rute se concentra no modo como Deus
visitou a Noemi, tratando-a com doçura e bondade, a despeito da sua amargura
dirigida contra ele.
Rute
1.6 introduz o conceito de que o Senhor “se lembra” do seu povo: “Então,
se dispôs ela com as suas noras e voltou da terra de Moabe, porquanto, nesta,
ouviu que o SENHOR se lembrara do seu povo, dando-lhe pão”.
Literalmente, o texto fala de uma visitação do Senhor em benefício do povo de
Israel. É interessante que a graça do Senhor se manifesta em meio a uma época
turbulenta e a um povo obstinado e rebelde. Esta nota introduz a expectativa de
que, apesar de a situação de Noemi ser de extrema dificuldade, Deus estava
agindo, intervindo em seu beneficio e de seu povo, dando seguimento ao seu
plano de redenção.
A
amargurada Noemi, após seu retorno para Belém, começa a provar das doces
manifestações da graça do Senhor. Primeiro, através do suprimento das suas
necessidades. O capítulo 2 tem início com a narrativa da ida de Rute aos campos
de Boaz: “Ela se foi, chegou ao campo e apanhava após os
segadores; por casualidade entrou na parte que pertencia a Boaz, o
qual era da família de Elimeleque” (v. 3). Nada acontece por casualidade
num mundo governado por Deus. A forma como as palavras aparecem no hebraico
sugerem a existência de “algum plano subjacente ao acidental”. A intenção
do autor é criar exatamente a impressão oposta. Ele deseja que o leitor perceba
a mão invisível de Deus agindo providencialmente, guiando todos os passos de
Rute. Deus guiou, conduziu cada passo de Rute ao campo de Boaz. Alguém disse que,
“a mão de Deus está nos bastidores, guiando as vidas de Rute e Noemi, porque Ele
gosta de cuidar daqueles que fazem dEle o seu refúgio”.
Isso
mostra como a graça de Deus foi estendida também a Noemi, por ter ela sido participante
de tudo o que Rute colheu ali: “Esteve ela apanhando naquele campo até à
tarde; debulhou o que apanhara, e foi quase um efa de cevada. Tomou-o e veio à
cidade; e viu sua sogra o que havia apanhado; também o que lhe sobejara depois
de fartar-se tirou e deu a sua sogra” (2.17-18). Noemi começa, então,
a reconhecer a boa mão de Deus naquele acontecimento: “Então, Noemi disse
a sua nora: Bendito seja ele do SENHOR, que ainda não tem deixado a sua
benevolência nem para com os vivos nem para com os mortos” (v. 20).
Segundo,
no resgate da propriedade do seu falecido marido. Na continuação do versículo
20 do capítulo 2 aparece a figura do parente-resgatador: “…Disse-lhe mais
Noemi: Esse homem é nosso parente chegado e um dentre nossos resgatadores”.
Um go’el ou um resgatador era um parente próximo que possuía certas
obrigações para com os membros do seu clã. No caso, Boaz era parente de
Elimeleque (2.3). A lei do resgate aparece em Levítico 25.47-49: “Quando o
estrangeiro ou peregrino que está contigo se tornar rico, e teu irmão junto
dele empobrecer e vender-se ao estrangeiro, ou peregrino que está contigo, ou a
alguém da família do estrangeiro, depois de haver-se vendido, haverá ainda
resgate para ele; um de seus irmãos poderá resgatá-lo: seu tio ou primo o
resgatará; ou um dos seus, parente da sua família, o resgatará; ou, se lograr
meios, se resgatará a si mesmo”. O resgatador tinha o papel de comprar de volta
a propriedade de algum parente, que a vendeu por falta de recursos. Ao comprar
a terra de volta, o resgatador a restituía ao seu dono original: “Ao restaurar
a terra a seu dono original, o go’el mantinha a herança do clã intacta”.
Foi exatamente isso que Boaz fez. Ele comprou de volta, ou seja, resgatou a
terra que pertencera a Elimeleque antes da sua ida para a terra de Moabe
(4.1-9).
De
que maneira a graça estendida sobre Noemi pode ser percebida? De acordo com
Levítico 25.23, a terra e as propriedades nela, em última análise, pertenciam
ao Senhor, não às famílias de Israel: “Aqueles que pertencem a Deus são, de
fato, seus inquilinos, em vez de proprietários absolutos de suas propriedades e
bens”. As famílias de Israel receberam a sua porção de terra quando entraram na
terra de Canaã. Deus concedeu a cada tribo uma parte da terra. Ele deu. De
graça. Pela graça. Isto posto, Deus se mostra gracioso para com Noemi, ao agir
de forma providencial levantando Boaz para resgatar a terra com que ele, o
Senhor, em sua graça, outrora abençoou Elimeleque e toda a sua família. A terra
uma vez recebida pela graça, retorna também pela graça. Assim, a mulher que até
pouco tempo não possuía nenhuma perspectiva de sustento é graciosamente
sustentada pelo Senhor do Pacto.
Terceiro
e último, a graça também se manifesta na suscitação de descendência. O
resgatador também tinha a obrigação de casar com a viúva de um parente
falecido, a fim de cuidar dela e de suscitar a sua descendência: “Se
irmãos morarem juntos, e um deles morrer sem filhos, então, a mulher do que
morreu não se casará com outro estranho, fora da família; seu cunhado a tomará,
e a receberá por mulher, e exercerá para com ela a obrigação de cunhado. O
primogênito que ela lhe der será sucessor do nome do seu irmão falecido, para
que o nome deste não se apague em Israel” (Deuteronômio 25.5-6; Gênesis
38). Rute fora casada com Malom (4.10). Quiliom, seu cunhado também era morto.
O resgatador mais próximo que Boaz não pôde casar com Rute e, assim, resgatá-la
(4.6). Assim, Boaz cumpriu a lei do levirato, casando-se com Rute e suscitando
a descendência de Malom, filho de Noemi: “Assim, tomou Boaz a Rute, e ela
passou a ser sua mulher; coabitou com ela, e o SENHOR lhe concedeu que
concebesse, e teve um filho”. (4.13).
A
criança concebida por Rute foi considerada pelas vizinhas de Noemi como seu
filho (4.17). Foram as vizinhas que ouviram a amarga resposta dela, em 1.20-21.
Agora, com o nascimento daquela criança, elas oferecem uma alegre e feliz
réplica ao lamento de Noemi. Diz Ulrich: “As mulheres de Belém, que
anteriormente haviam encontrado uma Noemi derrotada e desanimada em retorno de
Moabe, não puderam conter o louvor dela pelo nascimento do primeiro filho de
Rute.
Imagine
uma mulher viúva, sem filhos, completamente desamparada, sem perspectiva de
sustento e, ainda por cima, com profundas raízes de amargura em seu coração.
Imagine também que sua amargura não é dirigida a qualquer pessoa. Antes, é
dirigida a Deus. Providencialmente, essa mulher tem a sua sorte transformada.
Tem a propriedade do seu falecido marido resgatada, obtém o sustento das suas necessidades
e, além disso, recupera a sua descendência através do nascimento de um neto.
Isto é graça! Os nomes do seu esposo e de seu filho não seriam apagados de
Israel
A
graça se mostra mais fulgurante quando, na conclusão do livro, é dito que
aquela criança não era uma criança qualquer. Tratava-se daquele que seria o avô
do grande rei Davi (4.17). Os dias anárquicos e sombrios dos juízes não seriam
a realidade última. Deus estava agindo. Ele estava trabalhando, através de
todos os acontecimentos, na vida do seu povo. Começava a despontar no horizonte
a época áurea quando Israel seria governada por alguém segundo o coração de
Deus. Mais ainda, o nascimento de Obede apontava para o nascimento futuro do
grande descendente de Davi. Uma mulher viúva e já sem os seus filhos seria a
avó de alguém que pertenceria à linhagem do Messias.
Deus
abençoe você e sua família.
Pr.
Waldir Pedro de Souza.
Bacharel
em Teologia, Pastor e Escritor.
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